NOSTALGIA

 "Todo o mundo é composto de mudança, tomando sempre novas qualidades", dizia Camões. Como alguns dos que me lêem saberão, no final do ano lectivo passado terminei formalmente a minha carreira profissional mantendo apenas uma ligação leve à docência e orientação de trabalhos académicos.

Como também é normal atrás de nós vêm outros nós e, por isso, foi-me solicitado que “desse um jeito” no gabinete para que os colegas possam ter o seu espaço de trabalho disponível.

Assim, hoje voltei à escola, ao gabinete para proceder à “libertação” do espaço.

Consegui, de facto, libertar algum espaço, mais do que eu imaginava, após vinte e seis anos de muito trabalho lá vivido e muitos materiais acumulados.

Mas a verdade, é que enquanto ia libertando o espaço ia ficando preso na nostalgia. Ao ir retirando largas dezenas de teses de mestrado e algumas de doutoramento, em papel ou já em cd, deixei de o conseguir fazer rapidamente.

Olhava o título e autor(a) e eu que me considero uma pessoa com péssima memória para nomes, às tantas, sobretudo nas que orientei, tinha outras em que apenas participei no júri, fiquei surpreendido, da esmagadora maioria o nome e o tema faziam-me “ver” o aluno ou aluna, agora, colega, que a realizou e até pormenores do tempo em que trabalhámos e da relação que tivemos.

Cumpri a função da libertação de espaço no gabinete, mas, mais uma vez, percebi que não nos libertamos da condição de professor. O espaço ficou limpo, mas a pegada não se apaga.

Muitas vezes, aliás, aqui tenho escrito que pais e professores nunca se “reformam” ou vão “de férias”.

Acho mesmo. Obrigado a quem comigo se cruzou por aquelas salas de aula.