AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

UMA PANDEMIA DE PANDEMIAS

 

Intencionalmente, não tenho abordado neste espaço de partilha a questão do momento, a pandemia. A razão principal prende-se com o facto de não saber de que pandemia falar.

É verdade que existe um velho e muito conhecido ditado popular português que reza, “uma pandemia nunca vem só” e na verdade estamos numa pandemia de pandemias. Vejamos algumas o que talvez possa ajudar a perceber a minha dificuldade.

Desde o início, ainda mal conhecíamos a pandemia e emerge uma pandemia de virologistas, epidemiologistas, infecciologistas, pneumologistas, especialistas em saúde pública e outra gente de ciência que regularmente alimentam uma pandemia de informação impossível de digerir e entender.

A esta soma-se uma outra pandemia a que também chamam de informação, esta produzida por opinadores profissionais ou avençados, carregados de agendas que vendem com um ar convencido opiniões mascaradas de saber que são mais um contributo pandémico, tantas e tantas vezes indigesto e inútil.

Com as pandemias de informação mistura-se a pandemia da desinformação que através da imprensa, das redes sociais ou de outros suportes que confunde e alastra facilmente com efeitos potencialmente devastadores.

Temos a pandemia dos efeitos da pandemia, sejam os dramáticos números de infectados com consequências fatais para muita gente, sejam os efeitos devastadores na perda de rendimentos para muitas pessoas e actividades económicas, sejam os efeitos graves ao nível da saúde mental e qualidade de vida, sejam … enfim, uma pandemia de efeitos.

Temos a pandemia das decisões que vão sendo tomadas e que com frequência não nos parecem claras, pouco concertadas, que vão sendo ajustadas ou alteradas pelas reacções e também sem que nos fique claro o porquê, o como, o para quê que vão minando a nossa confiança e, como consequência alimentando a desconfiança e insegurança.

Uma última referência algo que nunca antecipei, a pandemia dos que negam a pandemia. Mais uma vez se recorre à divulgação ou venda de opinião como ciência, com discursos com base em “é assim, porque dizemos que é assim” e porque a terra é plana e também nos querem convencer que é arredondada, com discursos de “pela verdade” com base na crença e numa ciência que se tortura para confessar o que se deseja ouvir e num enviesamento claro do entendimento do que são sociedades solidárias em que o bem-comum é uma base. Esta pandemia aliada à pandemia da desinformação é inquietante nos efeitos.

Enfim, talvez só com uma pandemia de vacinas a coisa se possa modificar.

Aguardemos.

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