Foi divulgado o estudo “Jovens no Pós-Secundário” anualmente
elaborado pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência. Em
2018/2019 terminaram o secundário 97150 alunos. Actualmente, cerca de 6% destes
alunos (6000), não estudam nem trabalham.
Em termos de caracterização, 53% dos jovens nesta situação,
53% são raparigas, 66% oriundos de famílias com nível básico de escolaridade, 61%
concluíram o secundário com média inferior a 14 e 70% realizaram cursos
profissionais.
Estes dados são tanto mais significativos se considerarmos
que estes jovens não integram totalmente a designada geração “nem, nem"
ou, na terminologia em inglês, NEET (Not in Education, Employment or Training),
pois ainda desenvolvem esforços no sentido de encontrar emprego.
Aliás, considerando esta geração “nem, nem” e de acordo com
o relatório Education at a Glance, da OCDE de 2019, Portugal tinha um dos
números mais elevados e cerca do dobro dos países da OCDE, 3% dos jovens entre
os 18 e os 24 anos.
Parece importante assinalar que, globalmente esta situação
afecta, sobretudo, jovens com menos qualificações e mulheres, o que também não
é novo. A exclusão da escola é quase sempre a primeira etapa da exclusão
social.
A estes indicadores já profundamente inquietantes deve
juntar-se os dados sobre precariedade, abuso do recurso a estágios e outras
modalidades de aproveitamento de mão-de-obra barata e a prática de vencimentos
que mais parecem subsídios de sobrevivência mesmo para jovens altamente
qualificados. O actual quadro terá, muito provavelmente, efeitos significativos
que implicarão a subida do número de situações.
Esta situação complexa e de difícil ultrapassagem tem
obviamente sérias repercussões nos projectos de vida das gerações que estão a
bater à porta da vida activa. Entre outras, contar-se-ão, o retardar da saída
de casa dos pais por dificuldade no acesso a condições de aquisição ou aluguer
de habitação própria ou o adiar de projectos de paternidade e maternidade que
por sua vez se repercutem no inverno demográfico que atravessamos e que é uma
forte preocupação no que respeita à sustentabilidade dos sistemas sociais. As
gerações mais novas que experimentam enormes dificuldades na entrada sustentada
na vida activa, vão também, muito provavelmente, conhecer sérias dificuldades
no fim da sua carreira profissional.
No entanto, um efeito muito significativo, mas menos
tangível desta precariedade no emprego e na construção de um projecto de vida
autónomo e sustentado, é a promoção de uma dimensão psicológica de precariedade
face à própria vida no seu todo e que, com alguma frequência, os discursos das
lideranças políticas acentuam. Dito de outra maneira, pode instalar-se, estará a
instalar-se em muitos jovens, uma desesperança que desmotiva e faz desistir da luta
por um projecto de vida de que se não vislumbra um futuro mobilizador e que
recompense.
O aconchego da casa dos pais, muitas famílias também enredadas
em dificuldades, pode ser a escapatória para a sobrevivência, mas potenciar o
risco da desistência o que certamente poderá ter implicações séria.
Isto porque, se as condições de exercício da prática política estão inscritas na essência da sociedade capitalista, as condições de exercício da prática educativa estão inscritas na essência da realidade humana, mas são negadas pela sociedade capitalista não podendo se realizar aí senão de forma subordinada, secundária (SAVIANI, 2008, p. 69).
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