AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

A QUALIFICAÇÃO É UM BEM DE PRIMEIRA NECESSIDADE, DESCULPEM A INSISTÊNCIA

 

Como se antecipava desde o início da candidatura este ano registou-se o mais alto valor de sempre no número estudantes que entraram no ensino superior e ainda não se conhecem os números finais incluindo o ensino superior privado.

Estranhamente, parte significativa do que vejo escrito e opinado, não aponta o que isto pode significar de qualificação da população portuguesa, procura questionar e desvalorizar tal subida e "vendendo-a" como "produto contrafeito", negativo. Julgo que alguma prudência é requerida nestas "análises".

Aponta-se designadamente a maior facilidade dos exames, os efeitos do ano excepcional que se viveu em 19/20, às fórmulas de acesso e aos diversos canais que existem e, assim, muita gente no ensino superior será um problema. Não me é estranha a questão, quando em família se decidiu que eu estudaria até ao superior se assim o desejasse fosse capaz, também houve gente que se interrogou por que razão o meu pai, um serralheiro, “punha” o filho a estudar, era coisa só para alguns. uma estrada por onde não passávamos.

Quanto ao acesso e aos exames, quem me acompanha sabe de há muito anos defendo que sendo importante que existam exames finais do secundário, estes não devem ser quase que em exclusivo o critério de acesso o que cria vários outros efeitos que podem enviesar o acesso. O processo de candidatura ao superior deveria ser independente do processo de candidatura que considera como se sabe múltiplas vias o que me parece adequado.

Quanto ao aumento do número de alunos é claramente uma boa notícia.

Em sociedades desenvolvidas a qualificação é um bem de primeira necessidade. Em Portugal e durante muitos anos temos ouvido discursos como “não adianta estudar" que os indicadores sociais e económicos mostram estarem errados e são um autêntico tiro no pé de uma sociedade pouco qualificada como a nossa.

A tão divulgada ideia do “país de doutores” é falsa, em termos europeus continuamos  com uma das mais baixas taxas de qualificação superior em todas as faixas etárias incluindo as mais jovens. Aliás, talvez não consigamos cumprir a meta a que nos comprometemos com a UE para 2020, 40% de pessoas licenciadas entre os 30 e os 34 anos.

Este aumento de alunos coloca evidentemente e ainda bem, novas exigências de qualidade nos processos de formação e nos recursos disponíveis, mas mais uma vez é o que se espera de políticas públicas adequadas.

No entanto e considerando o que disse acima, tenho para mim que mais do preocupado com os alunos quando entram e como entram, interessa-me mais saber como saem e quando saem. Mais uma vez me lembro que quando entrei no superior tinha "estatuto" de aluno de baixo rendimento, era pouco interessado na generalidade das matérias do secundário, cumpria serviços mínimos e carregava na mochila muitas negativas e um “chumbo” pelo meio, sem esquecer alguns interesses e actividade indesejáveis na altura. No superior, no curso que queria, as minhas notas subiram e após uma carreira profissional acabada formalmente há pouco acho que não estive mal, passe o juízo em causa própria.

E para que os que agora entram acabem e acabem com boa formação precisamos de garantir os recursos em termos de apoios sociais que previnam o abandono, as famílias portuguesas são das que maiores custos suportam com a frequência de ensino superior.

Precisamos de equipas docentes e de investigação renovadas e competentes no ensino politécnico e universitário, público e privado.

Precisamos de investimento no ensino superior e na sua frequência que seja o garante da qualidade da formação e, portanto, do futuro.

Parece-me ainda, talvez fruto de algum irrealismo, que o conhecimento é construído com, pelas e para as pessoas. Neste sentido continuo a entender quem todos os cursos de ensino superior deveriam existir créditos obrigatórios para áreas como ética e filosofia.

Um dia, creio, assim será.

Entretanto, a todos e todas que agora vão começar esta estrada sejam bem-vindos(as) e bom trabalho.

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