AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 21 de julho de 2020

DA RECUPERAÇÃO E DAS NORMALIDADES

Ao fim da maratona de discussões o grupo de países europeus que se designa por União Europeia lá se entendeu na definição dos dispositivos de apoio aos diferentes países.
Como é habitual, o resultado é que “ganharam todos”: É bonito quando assim é e foi aprovado um pacote global no valor de 1,8 biliões de euros destinado a promover a recuperação da actividade e a transformação da economia assente em modelos mais verdes, inclusivos e digitais. Ao que se lê na imprensa, a Portugal estará destinada uma verba global de 45 mil e 85 milhões de euros.
Os efeitos devastadores dos últimos meses em múltiplas dimensões da nossa vida individual, da vida em comunidade, entre comunidades no sentido mais alargado, o problema é mundial, fazem-nos ansiar pela recuperação, pelo retornar a antes, por um regresso à normalidade perdida, seja isso o que for para cada um de nós.
Este movimento é necessário, diria imprescindível, é uma imagem de futuro que nos reboca, nos mobiliza. É importante percebermos como será esse retorno, quando será esse retorno e o que importa ponderar para que se recupere.
De um ponto de vista mais individual e como escrevi acima, numa perspectiva de protecção e confiança é fundamental que criemos imagens de futuro que nos apoiem para lá chegar neste caminho que não é fácil e tem inúmeros riscos.
A grande questão será, creio, a que normalidade queremos voltar ou melhor, a que normalidades queremos voltar, o que queremos recuperar. Na verdade, existem múltiplas normalidades e talvez as circunstâncias excepcionais em que vivemos nos possibilitem e inspirem a repensar se algumas das “normalidades” que conhecemos seria desejável que se mantivessem.
Nesta perspectiva e agora que existe a alavanca financeira queremos recuperar modelos e “normalidades” que alimentam exclusão, pobreza, intolerância, atropela direitos, compromete o nosso futuro como habitantes do planeta, etc.? Se nada se repensar ou refizer, após a pandemia e à boleia da lenta recuperação financiada esta normalidade voltará, é uma normalidade resistente e se continuar a ser muito bem alimentada como tem sido, assim se manterá.
Por outro lado, também ansiamos recuperar, regressar, a uma normalidade que se traduz na proximidade com os de que gostamos e voltam a estar à distância de um gesto, à normalidade dos alunos nas escolas, da gente na rua, nas lojas  e empresas e a circular sem medo do “bicho” como dizem os meus netos. Os miúdos de diferentes idades têm saudades têm da escola, sim, os miúdos gostam da escola e dos professores. Os miúdos, adolescentes e jovens, todos nós, queremos regressar, recuperar, o estar com a família, com os amigos, de realizar todas as actividades que fazíamos e deixámos de o poder fazer, enfim, de regressar ao tudo que poderemos fazer.
Esta normalidade queremo-la de volta, queremos recuperá-la tão depressa quanto possível.
No entanto, deveríamos reflectir se queremos todas as normalidades de volta, se queremos recuperar tudo, ou entendermo-nos  sobre que novas normalidades precisamos de definir.
Não depende só de nós, mas também depende de nós.

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