AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 4 de julho de 2020

A ENXADA


Cumprem-se hoje sete anos que entrei pela primeira vez no mundo mágico da avozice, nasceu o Simão, o meu neto Grande. E se achava mágica a ideia da avozice quando não a conhecia e se achei mágico quando a conheci, continua mágica em cada dia que passa.
É mágico não porque não existam sobressaltos, mas porque a bênção de ver os netos crescer com o privilégio de estar por perto é maior que tudo o que é grande.
A passagem de cada aniversário, sobretudo de gente pequena, implica o incontornável “Avô, qual vai ser a minha prenda?”.
O Simão, tal como o Tomás, o neto Pequeno têm uma paixão pelo monte, pelo Alentejo, pelo menos da dimensão da minha e porque estamos num ano atípico pouco dado a festas muito frequentadas, ficámos por aqui.
Considerando o esforço com que permanentemente lidam com as ferramentas de trabalho para realizar “projectos” e “sistemas” achámos por bem oferecer uma enxada pequena, mais leve, ao Simão e, tinha de ser, uma ainda mis pequena ao Tomás. Não tarda, entrarão em acção que por agora o calor é bravo, é o tempo dele, como disse o Mestre Zé de manhã quando andávamos na lida.
Há pouco, quando pensava na enxada lembrei-me de umas falas que o meu Pai, que partiu cedo, mas não sem antes me mostrar o que não conheceu, me dizia de vez em quando.
Na família mais próxima fui o primeiro a prolongar os estudos sem brilho, mas sempre, quase, progredindo. E o meu Pai, de vez em quando, achava por bem informar-me ou recordar-me que ser educado, estudar, a escola, era a melhor enxada que podia ter para a construir uma vida melhor.
Ele tinha razão, não tenho, não tive, uma vida de sonho, não sei sequer o que será, mas sei que tenho uma vida com que nunca sonhei, estar aqui no Monte com a família, os netos, ou tudo o que fiz em termos profissionais, por exemplo. E foi a enxada de que o meu pai falava que aqui me trouxe, por  isso digo que ele me mostrou o que nunca viu, partiu demasiado cedo e … tenho pena que não tenha conhecido os bisnetos.
Iria dizer-lhes que a educação, escola, estudar, é a melhor enxada para construírem uma vida de que gostem.
Tenho a certeza de que o vão fazer e que a enxada que lhes dei hoje, o neto Pequeno, o Tomás, também recebeu uma, vão ser para nos ajudar e se divertirem aqui no Monte.
E são assim os dias mágicos da avozice, hoje também os dias do Alentejo.



1 comentário:

  1. Que avô ternurento e sábio! Muita saúde e vida para os ver crescer! Que bom vivenciar a sua avozice...

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