No dia 4 de Abril, ainda antes do início das aulas do
terceiro período e a propósito da sempre crítica questão da avaliação afirmei aqui a necessidade de considerar “que competências e saberes decorrentes dos
conteúdos curriculares seriam estabelecidas como objectivo e seriam adquiridas
em função de uma enorme diversidade nos contextos familiares, nos recursos e
competências disponíveis, na diversidade do trabalho realizado por escolas e
professores em situações múltiplas na sua natureza, actividades, meios utilizados,
duração, dispositivos de apoio, etc.
O esforço será no sentido do cumprimento “integral” dos
programas? Dependerá dos ciclos e anos de escolaridade? Teremos as actividades
mais dirigidas para “consolidação” e menos peso em “matéria nova? E realizam-se
as provas de aferição ou os exames nacionais, sobretudo no básico?
Sim, é necessário avaliar, mas avaliar o quê e como? Avaliar
o que avaliaríamos num cenário de “normalidade” com a adaptação possível de
dispositivos e suportes?
Como regular e promover equidade também na questão da
avaliação.
Já temos a experiência do final do segundo período, temos
desafios enormes pela frente, as respostas não são fáceis, antes pelo
contrário, mas nesta questão importa, do meu ponto de vista, minimizar o risco
da pulverização de entendimentos sobre o “que fazer” e “como fazer”.
A autonomia das escolas é importante, nenhuma dúvida sobre
isto, mas importantes também me parecem algumas orientações claras,
desburocratizadas, sem um entendimento "mágico" da realidade, nas
quais então sim, a autonomia e iniciativa das escolas pode assentar
diferenciando e optimizando iniciativas e procedimentos face às especificidades
do contexto em que se inscreve.
Creio que só assim será potenciado o esforço gigantesco que
professores, pais e alunos estão a desenvolver e a motivação para assim
continuar.”
Estamos no final do período, não temos exames finais no básico e a imprensa divulga hoje alguns
dados de um trabalho realizado pela Universidade Nova durante o mês de Maio inquirindo
2647 docentes da educação pré-escolar ao secundário.
Dos inquiridos, 33,7% realizou testes durante este período
escolar e 84.1% assentará a avaliação nos trabalhos realizados em casa e enviados
pelos alunos.
No que se refere à gestão dos conteúdos curriculares 68.1% leccionou
matéria nova e 26.3% procurou consolidar aprendizagens anteriores.
Ainda em matéria de avaliação, 67.7% dos docentes refere ir considerar
a assiduidade e 64.8% a participação nas aulas. Segundo os inquiridos cerca de
73% dos alunos enviaram regularmente os trabalhos solicitados, 15% dos alunos
não terão computador ou acesso à internet em casa e 24% dos docentes enviou aos alunos material
em papel.
Neste contexto importa ainda recordar que segundo um
inquérito realizado pela Fenprof já durante o 3º período a 3548 docentes, 54,8%
continuava na altura da resposta sem conseguir contactar com todos os seus
alunos, através da net ou por outras vias.
Este quadro sublinha, por um lado a multiplicidade de
abordagens de professores e escolas e, por outro lado, a confirmação do cenário de desigualdade
entre alunos associada aos contextos familiares e aos recursos disponíveis, mais
de 80% dos docentes assentará a avaliação nos trabalhos realizados em casa, opção que se comprende, mas que potencia as disparidades atendendo às assimetrias dos contextos familiares e também considerando os alunos com necessidades especiais. Também pela mesma razão a opção por testes acabará, sobretudo, por certificar a desigualdade. Trata-se na verdade de uma situação extramente complexa e difícil sem soluções óbvias, perfeitas e imediatas no que concerne à avaliação.
Assim e conforme escrevi há dias, parece ser o
tempo de se conhecer o que chamei de Plano de Emergência para o Ensino Presencial
partindo do pressuposto ainda não adquirido de que teremos aulas presenciais em Setembro.
Em primeiro lugar parece imprescindível conhecer com rigor a
situação em cada escola ou agrupamento, quer no volume de situações, quer na
sua tipologia.
No entanto e com os indicadores conhecidos, parece possível
antecipar algumas medidas que poderão contribuir para a desejada e
imprescindível recuperação de muitos alunos e nas quais insisto
Redefinir o número de alunos por turma em contextos mais vulneráveis e ou a constituição
de grupos para trabalho tutorial.
Reforçar os dispositivos de apoio específico a alunos com
necessidades mais acentuadas e a alunos com necessidades especiais reforçando
os recursos das EMAEI. Apesar de ser parte interessada parece-me claro a
necessidade de reforço de profissionais de psicologia da educação.
É claro que é necessário investimento em recursos pelo que
reforço a minha estranheza pela quase total ausência da educação no Programa de
Estabilização Económica e Social e no Orçamento Suplementar apenas se refere a
dotação para apoio à transição digital, o novo mantra.
Neste quadro o Ministério admite a contratação de
professores “se for necessário”. O que não é particularmente animador.
Como escrevi e reforço, estamos a falar do futuro e do
direito à educação.
Sobre o cenário de desigualdade coloco a seguinte questão: até onde deve ir a flexibilidade curricular e a autonomia das escolas? Os limites de ambas têm de ser claros. A escola tem de permitir a ascensão social. É para isso que ela existe.
ResponderEliminarOlá Rui, sobretudo na questão da flexibilidade curricular (que nem sequer tem um entendimento consensual) creio que a questão não será tanto de limites mas de formas de regulação. A latitude da diversidade entre alunos é tão grande que não parece possível estabelecer limites de diferenciação curricular. Entendo que mais adeuado será a definição participada de orientações e critérios de diferenciação curricular acompanhadas por estruturas de regulação.
ResponderEliminarNo caso da autonomia e mais uma vez precisamos de saber de que estamos a falar, embora seja aparentemente mais fácil estabelecer limites (a título de exemplo a gestão do corpo docente é nacional) também me parece que o caminho será definir as orientações e estruturar formas de regulação e monitorização que defendam a autonomia, a qualidade e os níveis de participação da comunidade de cada escola ou agrupamento na construção da sua autonomia. Para isso precisamos que o ME confie nas escolas e nos professores o que não acontece há décadas e que a autonomia das escolas fique fora da tentação dos enviesamentos da partidocracia. De qualquer forma tudo isto dava uma longa abordagem.
Pois, a síntese limita a tão longa abordagem que a temática exigia. Não vejo como regredir na partidocracia que nos enoja. Pelos sinais que dão a trajetória parece mesmo ir no sentido contrário. O modelo de gestão atual foi adotado exatamente para isso. Cumprimentos.
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