Da entrevista de ontem do
Ministro da Educação ao Público relevam algumas questões que suscitam reflexão.
Parece alta a probabilidade de que o Setembro de 2020 seja muito diferente do Setembro
de 2019.
Neste contexto, uma das questões
que julgo de particular importância prende-se com a possibilidade de no próximo
ano e por razões decorrentes da situação de saúde pública termos um misto de
aulas presenciais e aulas online.
Não vou discutir a questão da
necessidade de que assim seja por razões sanitárias, se forem exclusivamente essas as razões, mas temo o que possa
significar em termos de educação.
Antes desta questão, o modelo
misto, uma referência à afirmação do Ministro sobre a necessidade de um esforço
de “avaliação de tudo aquilo que não foi consolidado ou tão bem ensinado. A
recuperação das aprendizagens tem de ser um dos pilares fundamentais no
regresso às aulas”.
Sim, Sr. Ministro existirá um
pesado cadernos de encargos relativamente a aprendizagens não realizadas ou consolidadas.
No entanto, a questão, creio, é ainda mais complexa, trata-se da recuperação de
crianças e adolescentes que ficaram mais distantes da escola, não se trata “apenas”
de aprendizagens pouco consolidadas, trata-se aprendizagens não realizadas por
desmotivação, metodologias e dispositivos inadequados para algumas idades,
problemas de competência digital e acesso a recursos e à rede, contextos
familiares pouco amigáveis, necessidades especificas de alguns alunos, etc. Não está em causa o esforço e empenho dos
professores e de outros intervenientes mas do que estes tempos criaram.
Também por isto, o eventual
recurso, sobretudo nos primeiros anos de escolaridade e na resposta diferenciada a alunos com necessidades especiais, a modelos mistos, aulas
online e presenciais, terá de ser ajustadamente pensado e o tempo não é muito.
O que com enorme esforço e motivação foi
estruturado no ensino à distância (E@D) foi uma resposta de emergência que
procurou substituir e minimizar o impacto do encerramento das escolas, mas não
é uma alternativa, dificilmente o será sobretudo nos primeiros anos de
escolaridade. Registe-se as boas práticas que também são conhecidas.
No entanto, parece claro que
e-learning é bem mais e bem diferente do que em muitas circunstâncias é
realizado no E@D. Assim, substituir algumas aulas via zoom por algumas aulas
presenciais não chegará para criar um modelo b-learning. Creio que os riscos para
as aprendizagens se manterão elevados e as dificuldades dos professores em
lidar com esta situação sobretudo nos anos iniciais de escolaridade. Este
modelo misto será extremamente exigentes para todos, professores, alunos e
famílias.
Assim, a ser necessário continuo
a insistir em que a simplificação deveria ser a grande orientação.
Seria desejável que o trabalho a
desenvolver, os conteúdos envolvidos, os dispositivos em utilização, a
organização de tempos e rotinas, etc., tivessem como preocupação a
simplificação, professores alunos e famílias ganhariam. Esta simplificação deve
incluir a avaliação e registos. Seria positivo que, tanto quanto possível, se
aliviasse a pressão “grelhadora” a que habitualmente escolas e professores
estão sujeitos
Como é evidente, este apelo à
simplificação não tem a ver com menos rigor, qualidade, intencionalidade
educativa ou não proporcionar tempo de efectiva aprendizagem para todos. Antes
pelo contrário, se conseguirmos simplificar processos e recursos, alunos, professores
e famílias beneficiarão mais do esforço enorme que este tipo de trabalho
implica como todos já podemos assegurar.
Por outro lado e neste contexto, a possibilidade
de um modelo misto a partir de Setembro, tal como o Ministro sublinhou e o Primeiro-ministro
já tinha referido ao “assumir o compromisso”, é exigido que esteja assegurada a
universalidade do acesso em plataforma digital, rede e equipamento para todos
os alunos do básico e do secundário. Trata-se, evidentemente, de uma medida crítica
no sentido da equidade e inclusão.
Voltaremos a outras questões
interessantes na entrevista do Ministro da Educação.
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