AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 22 de maio de 2020

UM SETEMBRO DE 2020 AINDA DIFERENTE DO SETEMBRO DE 2019


Da entrevista de ontem do Ministro da Educação ao Público relevam algumas questões que suscitam reflexão. Parece alta a probabilidade de que o Setembro de 2020 seja muito diferente do Setembro de 2019.
Neste contexto, uma das questões que julgo de particular importância prende-se com a possibilidade de no próximo ano e por razões decorrentes da situação de saúde pública termos um misto de aulas presenciais e aulas online.
Não vou discutir a questão da necessidade de que assim seja por razões sanitárias, se forem exclusivamente essas as razões, mas temo o que possa significar em termos de educação.
Antes desta questão, o modelo misto, uma referência à afirmação do Ministro sobre a necessidade de um esforço de “avaliação de tudo aquilo que não foi consolidado ou tão bem ensinado. A recuperação das aprendizagens tem de ser um dos pilares fundamentais no regresso às aulas”.
Sim, Sr. Ministro existirá um pesado cadernos de encargos relativamente a aprendizagens não realizadas ou consolidadas. No entanto, a questão, creio, é ainda mais complexa, trata-se da recuperação de crianças e adolescentes que ficaram mais distantes da escola, não se trata “apenas” de aprendizagens pouco consolidadas, trata-se aprendizagens não realizadas por desmotivação, metodologias e dispositivos inadequados para algumas idades, problemas de competência digital e acesso a recursos e à rede, contextos familiares pouco amigáveis, necessidades especificas de alguns alunos, etc. Não está em causa o esforço e empenho dos professores e de outros intervenientes mas do que estes tempos criaram.
Também por isto, o eventual recurso, sobretudo nos primeiros anos de escolaridade e na resposta diferenciada a alunos com necessidades especiais, a modelos mistos, aulas online e presenciais, terá de ser ajustadamente pensado e o tempo não é muito.
O que com enorme esforço e motivação foi estruturado no ensino à distância (E@D) foi uma resposta de emergência que procurou substituir e minimizar o impacto do encerramento das escolas, mas não é uma alternativa, dificilmente o será sobretudo nos primeiros anos de escolaridade. Registe-se as boas práticas que também são conhecidas.
No entanto, parece claro que e-learning é bem mais e bem diferente do que em muitas circunstâncias é realizado no E@D. Assim, substituir algumas aulas via zoom por algumas aulas presenciais não chegará para criar um modelo b-learning. Creio que os riscos para as aprendizagens se manterão elevados e as dificuldades dos professores em lidar com esta situação sobretudo nos anos iniciais de escolaridade. Este modelo misto será extremamente exigentes para todos, professores, alunos e famílias.
Assim, a ser necessário continuo a insistir em que a simplificação deveria ser a grande orientação.
Seria desejável que o trabalho a desenvolver, os conteúdos envolvidos, os dispositivos em utilização, a organização de tempos e rotinas, etc., tivessem como preocupação a simplificação, professores alunos e famílias ganhariam. Esta simplificação deve incluir a avaliação e registos. Seria positivo que, tanto quanto possível, se aliviasse a pressão “grelhadora” a que habitualmente escolas e professores estão sujeitos
Como é evidente, este apelo à simplificação não tem a ver com menos rigor, qualidade, intencionalidade educativa ou não proporcionar tempo de efectiva aprendizagem para todos. Antes pelo contrário, se conseguirmos simplificar processos e recursos, alunos, professores e famílias beneficiarão mais do esforço enorme que este tipo de trabalho implica como todos já podemos assegurar.
Por outro lado e neste contexto, a possibilidade de um modelo misto a partir de Setembro, tal como o Ministro sublinhou e o Primeiro-ministro já tinha referido ao “assumir o compromisso”, é exigido que esteja assegurada a universalidade do acesso em plataforma digital, rede e equipamento para todos os alunos do básico e do secundário. Trata-se, evidentemente, de uma medida crítica no sentido da equidade e inclusão.
Voltaremos a outras questões interessantes na entrevista do Ministro da Educação.

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