AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 10 de abril de 2020

DO ENSINO BÁSICO EM TEMPO DE CRISE


O conjunto de decisões sobre o futuro próximo da educação em Portugal ontem anunciadas veio ao encontro do que se previa.
Abordando hoje a questão do ensino básico creio que no cenário verdadeiramente excepcional que vivemos incluindo a dificuldade de estabelecer com segurança o seu fim, parece claro e aceitável o que foi divulgado que, aliás, parece estar a ser bem recebido pela comunidade.
Mantém-se o recurso ao ensino à distância com o apoio da recuperada Telescola, agora #EstudoEmCasa, não se realizam as provas de aferição bem como os exames finais e os docentes e escolas gerirão a avaliação interna a realizar considerando o trabalho que foi desenvolvido.
Como creio que é claro para todos, a resposta estruturada sendo a possível não é perfeita, longe disso, como não era perfeita a resposta assente no ensino presencial AC (Antes da Covide-19). O ensino à distância que estamos a desenvolver acrescido do contributo de #EstudoEmCasa é uma resposta de emergência que procura substituir e minimizar o impacto do encerramento das escolas, mas não é uma alternativa, dificilmente o será sobretudo nos primeiros anos de escolaridade.
Apesar do gigantesco esforço de professores e escolas e do aumento da acessibilidade e dos recursos digitais muitos alunos terão contextos familiares em que por variadíssimas razões será particularmente difícil o apoio necessário de adultos sobretudo para as crianças mais novas que, naturalmente, são menos autónomas.
Acresce, importa não esquecer, que para muitos alunos com necessidades especiais a situação traz dificuldades acrescidas. O ME disponibilizou algumas orientações, é importante que existam, o seu enunciado em papel parece adequado, mas, do meu ponto de vista, em contextos reais e com características específicas serão de difícil operacionalização. Mais uma vez, se com os docentes e técnicos nas escolas as dificuldades são grandes, nestas circunstâncias avolumam-se e muito.
Neste contexto julgo que começa a ser necessário que, tal como na economia se está já a iniciar a preparação do pós-pandemia, também no universo da educação comecemos a pensar no próximo ano lectivo.
Julgo que será consensual que o próximo ano não pode ser pensado como se este tivesse sido um ano normal, seja lá isso o que for. Não é e não será, por melhor que corram os próximos meses e desejamos que seja o melhor possível.
O Primeiro-ministro assumiu ontem o “compromisso de que no início do próximo ano lectivo, aconteça o que acontecer, teremos assegurado a universalidade do acesso em plataforma digital, rede e equipamento, para todos os alunos do básico e do secundário”.  Trata-se, evidentemente, de uma medida positiva e necessária em termos de equidade e inclusão para além de dotar todos os alunos de ferramentas digitais com enquadramento no sistema.
Considerando alguns constrangimentos que esta emergência criou e que, apesar de todos os esforços, para alguns alunos terão certamente impacto mais significativo julgo necessário que comecemos a pensar como no arranque do próximo ano lectivo e ao longo dos primeiros meses poderão ser definidos nas escolas alguns dispositivos que procurem identificar alunos “que ficaram para trás”, que dificuldades revelam, que apoios podem receber, etc.
Atendo ao que acima referi são também necessários um olhar e uma intervenção particulares nos eventuais efeitos deste final de ano lectivo em muitos alunos com necessidades especiais e nas dificuldades criadas nas famílias.
Seria óptimo que no meio deste turbilhão no qual todos os dias aprendemos e sentimos dificuldades conseguíssemos ir pensando em como e com que recursos podemos tentar “ir buscar” os miúdos e adolescentes que correm o sério risco de perder o comboio. Em que eventuais recursos
Não se trata de uma tarefa fácil, em educação, brincando com as palavras, é difícil ter uma tarefa fácil, mas temos de tentar e começar a pensar como.
Ainda uma palavra para a situação das crianças até aos seis anos. Creches e jardins-de-infância permanecerão encerrados e as crianças em casa. Não é possivel que seja de outra forma mas é possível que, como já está a acontecer, tentemos disponibilizar às famílias apoios e orientações que contribuam para que tanto quanto possível o tempo difícil para adultos e crianças decorra com a maior tranquilidade possível.


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