Hoje não falo do “bicho” como lhe chama o meu neto Simão.
Ao que leio na imprensa, a professora Cristina Simões, da área da educação especial,
em Tondela está no grupo de finalistas do Global Teacher Prize mundial,
iniciativa que parece ser considerada algo como o Nobel da Educação. O
resultado do escrutínio será em Outubro
Uma saudação à professora Cristina Simões pelo
reconhecimento do seu trabalho sublinhando o facto dele se desenvolver como
refere Cristina Simões com alunos com “necessidades acrescidas”. É sabido que
foi decretado o fim da terminologia “necessidades especiais”.
Como já referi o ano passado entendo que este tipo de
iniciativas pode ter algum significado sobretudo como valor simbólico da
necessária valorização e reconhecimento social e alargado do trabalho dos
professores num tempo em que tal reconhecimento e valorização nem sempre são
sólidos e expressos, antes pelo contrário. No entanto, não acredito muito na
ideia do melhor Professor de …
Algumas notas.
Algumas notas.
A esmagadora maioria dos professores é competente e
empenhada nesse trabalho, procurando desenvolvê-lo com qualidade, rigor e
eficácia, sem facilitismos, contrariamente ao que tantas vezes se afirma de
forma ignorante. Todos os dias, em todas as escolas muitos professores fazem
trabalhos de notável qualidade que mais frequentemente apenas são valorizados e
conhecidos … pelos seus alunos, todos os alunos.
É verdade, tinha que falar no “bicho”, neste momento as
escolas estão do avesso e alunos, professores e pais enfrentam desafios
gigantescos inesperados e para os quais ninguém consegue estar preparado e
tranquilo embora o empenho, a competência e o esforço de todos possam minimizar
danos. Esperemos que assim seja.
Voltando ao trabalho dos professores, quando qualquer de nós
faz um esforço para recuperar lembranças positivas sobre os professores, poucos
ou muitos, com que nos cruzámos durante o nosso trajecto escolar, creio que
quase todos nos lembramos de professores que continuam na nossa lembrança não
só pelos saberes escolares que nos ajudaram a adquirir mas, sobretudo, por
aquilo que representaram e foram para nós, ou seja, pela forma como nos
marcaram. Cada um desses professores é, certamente, o melhor professor que
conhecemos.
Por isso, cada vez mais estou convicto de que os
professores, tanto quanto ensinar o que sabem, ensinam o que são, ou seja,
existem muitos que nos ensinam saberes, o que é bom e indispensável, mas nem
todos permanecem com a gente.
Parece-me sempre oportuno mas nestes tempos mais que nunca
acentuar a importância desta dimensão mais ética e afectiva do ensino. Deve ser
valorizada e promovida para que os miúdos possam, posteriormente, falar dos
professores que os marcaram e que, por essa razão, continuaram com eles.
Para complementar e em tempos tão pesados acrescentar alguma
“viagem” permitam-me recuperar uma história que já aqui coloquei, a história do
Mestre Teixeira, o mestre de Fusíveis.
O Mestre Teixeira foi há muitos anos professor de uma escola
que havia naquele tempo que se destinava mais a ensinar o saber-fazer do que o
saber-saber. Chamavam-lhes escolas técnicas, umas mais dirigidas para a
indústria, as industriais, outras mais dirigidas para os serviços, as
comerciais.
O Mestre Teixeira era professor numa escola industrial e era
especialista nas coisas da electricidade, sabia tudo sobre esse mundo e tinha,
isso é que o fazia ser como era, uma paixão enorme por aquelas coisas. Algumas
pessoas, o Mestre Teixeira era uma delas, gostam que toda a gente goste das
coisas que os apaixonam e era a partir dessa paixão que ele se relacionava com
os alunos.
Mas a grande virtude do Mestre Teixeira era a sua capacidade
para entender os alunos, ler os alunos, como eu costumo dizer. Tinha uma
capacidade notável de perceber o que se passavam com os adolescentes, o que os
levava aos comportamentos ou às dificuldades que evidenciavam. Era quando ele
falava qualquer coisa como "tens algum fusível a precisar de ser visto ou
a queimar".
Tinha então a sabedoria para perceber o que se passava e
"arranjar" os fusíveis que não estavam em boas condições. Tal
sabedoria e atenção e proximidade faziam dele um daqueles professores que nos
marcam, ensinam o que são, mais do que o que sabem, mesmo quando sabem muito,
como era o caso do Mestre Teixeira.
Por isso toda a gente lhe chamava O Mestre de Fusíveis.
Hoje, mais do que nunca, fazem falta os Mestres de Fusíveis. Como a professora
Cristina Simões certamente será.
Lucidez e sobriedade.
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