O mundo da educação é um universo particularmente exposto à emergência
de conflitos. Parte desta conflitualidade resulta das suas especificidades e
desafios diários nas escolas e salas de aulas mas também das opções e mudanças em matéria de políticas públicas, da profissionalidade, da
concertação das diferenças dos papéis de múltiplos actores, das agendas individuais ou institucionais, de variáveis de contexto, etc.
Por outro lado, também me parece que uma parte dessa
conflitualidade é potencialmente uma ferramenta de desenvolvimento e mudança, emerge da reflexão, da troca, da discussão e desse ponto
de vista poderá ter reflexos positivos ao promover mudança no sentido pensado e escolhido.
No entanto e em termos genéricos, o nível de crispação e conflito que nos últimos
anos se tem vindo a instalar nas comunidades escolares merece uma séria reflexão. Algumas notas necessariamente breves.
Como não pode deixar de ser uma das áreas mais sensível ao
conflito e crispação as relações entre alunos, encarregados de educação, professores,
técnicos ou auxiliares. Frequentemente aqui tenho referido esta questão a
propósito dos múltiplos episódios de agressões a professores e auxiliares.
Do meu ponto de vista a conflitualidade também radica em
aspectos nem sempre considerados, a imagem social dos professores e a sua
cultura profissional.
A imagem social dos professores tem vindo a sofrer uma
erosão significativa, alguns estudos e a chamada "opinião pública"
reflectem-no embora seja interessante registar que os professores continuam a
constituir uma das classes profissionais que merece mais confiança expressa
em estudos realizados regularmente. As razões são variadas e dificilmente
compatíveis com a abordagem neste espaço mas creio que uma boa parte da
política educativa dirigida aos professores nos últimos anos, uma boa parte dos
discursos dos líderes sindicais e os discursos ignorantes e irresponsáveis de
alguns "opinion makers" têm dado um bom contributo para que, em
termos sociais, a imagem dos professores seja afectada. Este processo mina de
forma muito significativa a relação que pais e alunos têm com os professores,
ou seja e sendo deselegante, "uma classe de gente que não trabalha",
"que não se interessa pelos alunos", "que não quer ser
avaliada", etc., (basta ver muitos dos comentários on-line a notícias que
envolvem professores), não é, obviamente uma classe que mereça respeito pelo
que se instala de mansinho um clima de reacção, desconfiança e fraqueza que
minimizam o exercício da autoridade. Os pais e alunos que agridem e ofendem
professores são uma espécie de "braço armado" dessa imagem social
induzida.
Numa outra linha de abordagem e gostando de estar creio que este clima de crispação e conflitualidade também está associado ao facto de que a cultura
profissional e institucional em boa parte das nossas escolas e agrupamentos é
ainda marcada por algum individualismo, expresso em termos "individuais" ou de pequenos grupos mas, de qualquer forma minimizando a coesão. Quero dizer com isto que,
lamentavelmente, os professores evidenciam níveis de cooperação e partilha
profissional abaixo do que seria desejável. As razões serão várias e não cabem
aqui, mas creio que justificam, muitas vezes, a não realização de queixas de
incidentes, muitas vezes graves, por receio de exposição e demonstração de
fragilidades face a colegas e responsáveis, o que uma cultura de maior
cooperação atenuaria. Acresce ainda que, por desatenção, incompetência ou
negligência muitas direcções de escolas e agrupamentos não vão muito longe na
definição de dispositivos de apoio, recorrendo a outros docentes mais
experientes ou à presença de dois professores por exemplo, que dariam aos
professores apoio e confiança para o trabalho com os seus alunos.
Acresce ainda a conflitualidade emergente entre os próprios professores
resultantes, por exemplo, de políticas públicas inadequadas em termos de questões
profissionais (mecanismos de progressão e estatuto salarial, grupos disciplinares, funções desempenhadas na escola/agrupamento, etc) ou agendas decorrentes da partidocracia. São múltiplos os discursos tensos, para ser simpático, entre os fiéis devotos da "revolução" em curso, das poções mágicas, da "inovação" e os que levantam dúvidas ou questionam opções. Dir-me-ão que tudo isto é próprio de sociedades abertas e, como se costuma a afirmar, é "a democracia a funcionar". Será mesmo?
Talvez tudo isto também esteja associado ao clima de desencanto e cansaço que alimenta orisco de "burnout" que ameaça uma classe envelhecida que troca entre si a pergunta "quanto tempo é que te falta?"
As redes sociais e o ambiente em muitas escolas mostram esta crispação que é frequente e, por vezes, intensa. Embora se perceba este cenário também fragiliza os profesores enquanto classe profissional.cia e intensidade.
Talvez tudo isto também esteja associado ao clima de desencanto e cansaço que alimenta orisco de "burnout" que ameaça uma classe envelhecida que troca entre si a pergunta "quanto tempo é que te falta?"
As redes sociais e o ambiente em muitas escolas mostram esta crispação que é frequente e, por vezes, intensa. Embora se perceba este cenário também fragiliza os profesores enquanto classe profissional.cia e intensidade.
Finalizando, independentemente de outras medidas certamente
necessárias, urge caminhar no sentido de reconstruir os discursos sociais sobre
os professores como fonte imprescindível de autoridade, saber e importância e,
paralelamente, incentivar a construção nas escolas de dispositivos leves e
ágeis de cooperação e de apoio aos professores para que cada um não se sinta
entregue a si próprio e com receio de "enfrentar" os alunos e os
pais, a pior das situações em que um docente se pode sentir.
Este caminho é da responsabilidade de todos, ministério,
sindicatos, direcções de escola pais, professores e alunos.
Creio que é urgente, é para hoje.
Creio que é urgente, é para hoje.
Muito Bem Professor
ResponderEliminarAtento a situação que ocorre nas nossas escolas
Os pais e a comunidade está do nosso lado " (...) os professores continuam a constituir uma das classes profissionais que merece a mais confiança expressa em estudos realizados regularmente.(...)
E eu noto isso no carinho que encontro dos encarregados de educação dos meus alunos e na comunidade educativa de técnicos, auxiliares e população em geral
Temos que acreditar em nós e nos valorizarmos por aquilo que fazemos
Obrigada Professor pelo seu artigo e por todos os outros que me encoraja
Ana Rita Costa