AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

AINDA A NÃO RETENÇÃO NO BÁSICO, "CONSTRUAM-ME PORRA!"


Nos últimos dias a discussão e referências à questão da retenção ou não retenção dos alunos no ensino básico na sequência da intenção expressa pelo Governo de criar um plano de retenção no ensino Básico têm sido permanentes e para todos os gostos e agendas.
Talvez vos possa parecer estranho mas tenho recordado a mítica expressão que corria no Alentejo relativa à Barragem do Alqueva, “Construam-me porra!”
Durante as últimas décadas, perco a conta a planos, projectos, programas, experiências inovadoras que chegaram às escolas para combater o insucesso ou, pela positiva, promover o sucesso, promover a leitura e escrita, promover a matemática, promover a educação científica, promover a educação inclusiva, a relação entre escola e pais e encarregados de educação, promover a expressão artística e a criatividade, promover comportamentos saudáveis e actividades desportivas, literacia financeira, promover a inovação e as novas tecnologias, para não falar de iniciativas mais "alternativas", por assim dizer, e que têm poderes mágicos, parece. A lista enunciada é apenas exemplificativa, mas relembro o Programa Interministerial de Promoção do Sucesso Escolar (PIPSE) criado em 1987 e de que muita gente ainda se lembra e outra tanta desconhecerá.
No entanto e sem ser por acaso, com demasiada frequência muitos destes projectos vêm de fora das escolas, as origens são variadas, não chegam a envolver de forma robusta a gente das escola, esmagada pelo trabalho, burocracia e outros constrangimentos como, por exemplo, assegurar da melhor forma possível o dia-a-dia do trabalho educativo que tem de ser realizado.
Também com demasiada frequência muitos destes projectos morrem de “morta matada” ou de “morte morrida”, não são avaliados de forma sólida e dão umas fotografias ou vídeos que compõem o portfólio dos organizadores e proporcionam umas experiências que se deseja positiva aos intervenientes no tempo que durou, mas sem mais impacto.
Todavia, preciso de afirmar que muitos destes Planos, Projectos, Inovações, etc. dão origem a trabalhos notáveis que, também com frequência, não têm a divulgação e reconhecimento que todos os envolvidos mereceriam e também afirmar que apesar de tudo a mudança foi significativa.
Também demasiadas vezes estas iniciativas consomem recursos com baixo retorno e ao serviço de múltiplas agendas.
Também é minha convicção que entre a gente da educação é possível estabelecer algum entendimento sobre o que está por fazer.
Com real autonomia, com mais recursos e com modelos organizativos mais adequados as escolas poderiam fazer certamente mais e melhor que quem vem de fora numa passagem transitória, mais ou menos longa, mas transitória. Sim, tudo isto deveria ser objecto de escrutínio, regulação e avaliação também externa, naturalmente.
Escolas com mais auxiliares, auxiliares informados sobre sinais que podem indiciar episódios de bullying, seria muito importante para além do mais auxiliares poderiam fazer relativamente a outras matérias.
Directores de turma com mais tempo para os alunos e menos burocracia poderiam desenvolver trabalho útil em múltiplos aspectos do comportamento e da aprendizagem. E também recursos suficientes para programas de tutoria e dispositivos de apoio competentes.
Psicólogos e outros técnicos em número mais adequado, o que verifica é inaceitável, poderiam acompanhar, promover e desenvolver múltiplas acções de apoio a alunos, professores, técnicos e pais.
Mediadores que promovessem iniciativas no âmbito da relação entre escola, pais e comunidade seriam, a experiência mostra-o, um investimento com retorno.
São apenas alguns exemplos de respostas com resultados potenciais com um custo que talvez não seja superior aos custos de tantos Projectos, Planos, Programas ou Iniciativas Inovadoras destinadas a múltiplas matérias e com custos associados de “produção” que já me têm embaraçado, mas a verdade é que as agendas e o marketing têm custos.
O desenvolvimento das comunidades exige ajustamentos regulares no que fazemos em matéria de educação e em todos os patamares do sistema, é verdade. Umas vezes melhor, outras vezes com mais sobressaltos temos feito um caminho importante e muito mais ainda vamos ter que fazer mas os ajustamentos que decorrem da regulação e avaliação não têm que ir atrás da “mágica” ideia da inovação, da resposta x.0, fazer como diz o Pedro Abrunhosa “o que nunca foi feito”.
Mais uma vez desculpem o risco de ser injusto mas sinto já cansaço face à narrativa da "inovação" e de mais um Plano.
Acabo como comecei recordando a expressão corrente no Alentejo relativa à Barragem do Alqueva, “Construam-me porra!”.
Também na educação, faça-se e façamos o que temos a fazer.

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