AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 10 de junho de 2019

MATEMÁTICA É A MINHA DISCIPLINA FAVORITA


Faz sentido no dia em que se assinala o Dia de Portugal fazer referência a um trabalho em desenvolvimento na área da educação e na promoção do sucesso educativo, evidentemente, o garante do nosso sucesso como país.
A Região Autónoma dos Açores tem em curso o programa ProSucesso no qual se inscreve o Projecto Prof DA centrado na Matemática e na sua aprendizagem bem-sucedida.
O Prof DA é coordenado por Ricardo Cunha e Teixeira, professor da Universidade dos Açores, iniciou-se em 2015 envolvendo todos os alunos do 1º ciclo e tem vindo a alargar-se aos outros anos de escolaridade, chegando ao 7º em Setembro até envolver todo o ensino básico. Já tinha contactado com este interessante trabalho pois tenho dado uma pequena colaboração no âmbito do ProSucesso em S. Miguel.
A avaliação tem sido francamente positiva e para além da melhoria significativa do desempenho da generalidade dos alunos é interessante referir que muito afirmam que Matemática é a sua disciplina favorita.
Já muitas vezes aqui tenho escrito que o insucesso escolar ou, mais particularmente, o mais baixo desempenho a matemática não é uma fatalidade.
Sabemos do peso de variáveis sociodemográficas, escolarização dos pais e nível de bem-estar socioeconómico por exemplo.
Sabemos da importância de políticas educativas adequadas, currículos adequados em natureza, conteúdos e extensão (algo que no caso da matemática, mas não só, tem andado à deriva), formação e apoios aos professores, dispositivos de apoio competentes e suficientes ao trabalho de alunos e professores aos alunos e aos docentes, tipologia e dimensão das turmas, etc.
No entanto, acresce a esta complexidade um conjunto de outras variáveis menos consideradas por vezes mas que a experiência e a evidência mostram ter também algum impacto.
São variáveis de natureza mais psicológica como, por exemplo, a percepção que os alunos têm de si próprios como capazes de ter sucesso, os alunos de meios menos carenciados percebem-se como mais capazes de aprender matemática.
Ainda uma referência a uma dimensão nem sempre considerada mas que julgo pertinente neste âmbito, a representação sobre a própria Matemática e que parece informar um eixo crucial no Prof DA. Creio que ainda hoje existe uma percepção passada nos discursos de muita gente com diferentes níveis de qualificação de que matemática é uma “coisa difícil” e ainda de que só os mais “inteligentes” têm “jeito” para a Matemática. Esta ideia é tão presente que não é raro ouvir figuras públicas afirmar sem qualquer sobressalto e até com bonomia que “nunca tiveram jeito para a Matemática, para os números”. É claro que ninguém se atreve a confessar uma eventual “falta de jeito” para a Língua Portuguesa e às vezes bem que “parece”. A mudança deste cenário é uma tarefa para todos nós e não apenas para os professores e seria importante que acontecesse.
De facto, este tipo de discursos não pode deixar de contaminar os alunos logo desde o 1º ciclo convencendo-se alguns que a Matemática vai ser difícil, não vão conseguir ser “bons” e a desmotivar-se. Aliás, é conhecido que muitos alunos escolhem trajectos escolares tendo como critério “fugir” da Matemática.
Mas o que também sabemos é que é na sala de aula, na escola, que se consegue fazer a diferença e combater o que parece ser uma fatalidade, o insucesso escolar.
Este trabalho nos Açores é “apenas” mais uma demonstração que os maus resultados a matemática não são inultrapassáveis e merece divulgação.

2 comentários:

  1. Ricardo Cunha Teixeira10 de junho de 2019 às 16:55

    Agradeço a referência ao Projeto Prof DA do Programa "ProSucesso - Açores pela Educação" do Governo Regional dos Açores. Subscrevo a importância de se combater o fatalismo de ser inevitável que a maioria dos alunos ao longo do seu percurso escolar ganhe aversão à Matemática. Os alicerces do Projeto Prof DA são fornecidos pela oficina "Matemática passo a passo", da Universidade dos Açores, e centram-se em estudos provenientes das neurociências cognitivas que explicam como o cérebro de uma criança aprende Matemática e em alguns casos de sucesso do ensino da Matemática à volta do mundo, como é o exemplo de Singapura, que fornece ao professor centenas de pormenores de ordem científica e didática amplamente testados em ambiente de sala de aula. Quando o professor se centra no essencial, na essência/natureza da própria Matemática, e a explora com os seus alunos este é meio caminho andada em direção ao sucesso escolar, pois ninguém gosta daquilo que não compreende. O modelo pentagonal do currículo de Singapura é muito claro neste sentido, colocando num mesmo patamar de importância conceitos, competências processuais e procedimentais, a capacidade de os alunos pensarem sobre aquilo que aprendem e, claro está, as atitudes dos alunos face a esta área do saber. Mais informações sobre este aspeto e sobre as dinâmicas do Projeto Prof DA podem ser encontradas em vários artigos do Jornal das Primeiras Matemáticas, como sejam estes: "A resolução de problemas no 2.º ano de escolaridade: uma sequência de aprendizagem do modelo de barras" (http://jpm.ludus-opuscula.org/Home/ArticleDetails/1180) e "Recursos didáticos promotores do sentido de número no 1.º Ciclo do Ensino Básico" (http://jpm.ludus-opuscula.org/Home/ArticleDetails/1207).

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  2. Obrigado pelo comentário e informação. Eu já conhecia um pouco do vosso trabalho e modelo. Tenho dado uma pequena colaboração no âmbito do ProSucesso em S. Miguel e, naturalmente, troca-se informação sobre o trabalho em curso na Região Autónoma.

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