AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 22 de junho de 2019

BRINQUEDOS INCLUSIVOS


Os mercados estão atentos e tudo se transforma numa oportunidade. O empreendedorismo é, aliás, uma competência na formação e qualificação dos indivíduos nas sociedades actuais.
Mesmo as problemáticas de diversa natureza que tornam grupos de cidadãos mais vulneráveis ou com necessidades específicas são rapidamente transformadas em nichos de mercado, legais ou ilegais, pois tudo tem cabimento.
Vem esta talvez estranha introdução a propósito de um trabalho no I centrado nos “brinquedos inclusivos” ou nos brinquedos que promovem a inclusão. Uma rápida pesquisa pela net mostra uma infindável gama destes materiais ou dispositivos.
Na peça do I são ouvidos alguns especialistas, incluído da área do “marketing” pois claro, sobre a questão dos brinquedos inclusivos e retive uma afirmação sensata da pedopsiquiatra Ana Vasconcelos “não se deve uma Barbie que anda em cadeira de rodas a uma criança que tem de andar de cadeira de rodas”.
Talvez estas minhas notas se expliquem pelo cansaço que me causa uma permanente referência à ideia de inclusão que, muitas vezes, branqueia ou disfarça a exclusão.
Sim, sejamos claros, a inclusão é também uma área de negócio com múltiplas facetas, desde a formação de docentes e de técnicos com uma oferta esmagadora e para todos os gostos e bolsas, a promoção e venda de receitas e dispositivos milagrosos, as próprias respostas educativas, sociais ou de qualificação profissional, etc. Chegou aos brinquedos e não há que estranhar, por que razão não haveria de chegar? Os mercados são inclusivos.
Uma das muitas e importantes funções dos brinquedos é mediar a relação das crianças como o meio em que se movem, com o mundo à sua volta. Se as pessoas são diversas, se os animais são diversos, se a natureza é diversa, se tudo é diverso … os brinquedos devem espelhar essa diversidade.
Por outro lado, uma das características de um brinquedo que cumpra a sua função, é que seja adequado ao desenvolvimento e competências das crianças que com ele brincam e que, a partir dessas competências, promova novas ou mais desenvolvidas competências.
O que é que isto tem a ver como inclusão? Tudo e nada.
Tudo, se os brinquedos forem usados de forma interactiva, com grupos diversos de crianças.
Nada, se, recupero a afirmação de Ana Vasconcelos, a uma criança com um problema motor lhe derem uma boneca que também evidencia um problema da mesma natureza e fique a brincar sozinha mesmo que ao seu lado esteja um grupo de crianças.
Um brinquedo, nenhum brinquedo, só por si é inclusivo ou exclusivo, a sua adequação à criança e o uso que dele é feito é que pode, ou não, promover inclusão.
O resto, desculpem lá … é marketing e negócio.

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