AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 14 de maio de 2019

DOS "CENTROS DE ESTUDO"


O terceiro período está terminar e aproxima-se a época de exames. Como costumo dizer, estes são o tempo das explicações, procura-se a “recuperação” que evite o “chumbo”, o “saltinho” até à excelência ou a preparação para os exames.
É também habitual que a imprensa se refira a esta questão. Uma peça no DN tem o sugestivo título “ESCOLA: COMO OS CENTROS DE ESTUDOS PODEM AJUDAR OS PAIS NESTES TEMPOS DIFÍCEIS”.
São apresentadas algumas experiências e quer pais, quer responsáveis referem o impacto positivo nos alunos, sobretudo no que respeita ao desempenho escolar. Os pais referem a importância de sentir que os miúdos estão apoiados e, sublinho, ocupados. No entanto, a peça,  naturalmente  sem intenção, esqueceu aqueles pais que não conseguem aceder a esta “ajuda”, é cara e está fora das suas possibilidades.
É verdade que a oferta é variada e, certamente, o custo também. Andar pela proximidade de muitas escolas essa abundância da oferta de “explicações” recorrendo designações muito variadas, “Centros de Estudo”, “Sala de Estudos”, “Academias”, “Ginásios”, etc., que provavelmente terão mais efeito “catch” no sentido de atingir o “target”.
O mercado está sempre atento.
Com alguma regularidade desloco-me a um local perto de uma escola básica integrada de dimensão significativa. Como não podia deixar de ser existem vários espaços para “explicações”.
Um deles, mesmo em frente à escola, divulga numa enorme montra um impressionante conjunto de serviços.Começa por afirmar que recorre a metodologias divertidas para aprender melhor.
Depois temos o elenco de respostas:
Explicações de todos os níveis
Centro de alto rendimento escolar
Preparação para exames
Estratégias educativas
Motivação e auto-estima
Gestão de ansiedade
Stresse nos exames
Mindfulness terapia
Actividades de férias
Confesso que fiquei esmagado. Escola e professores para quê?
Apesar de nada ter contra a iniciativa privada, desde que com enquadramento legal e regulada, várias vezes tenho insistido no sentido de se entender como desejável que os apoios e ajudas de que os alunos necessitam fossem encontrados dentro das escolas e agrupamentos, ou seja, os centros de estudo, deveriam estar nas escolas. O impacto no sucesso dos alunos minimizaria, certamente, eventuais custos em recursos que, aliás, em alguns casos já existem dentro do sistema.
Esta minha posição radica no entendimento de que a procura “externa” de apoios, legítima por parte das famílias, tem também como efeito o alimentar da desigualdade de oportunidades e da falta de equidade como sucessivos relatórios nacionais e internacionais referem e de que aqui já falei.
A ajuda externa ao estudo como ferramenta promotora do sucesso não está ao alcance de todas as famílias pelo que é fundamental que as escolas possam dispor dos dispositivos de apoio suficientes e qualificados para que se possa garantir, tanto quanto possível, a equidade de oportunidades e a protecção dos direitos dos miúdos, de todos os miúdos.
As necessidades dos alunos poderiam ser atenuadas com o recurso a professores que já estão no quadro ou com contratos sucessivos sendo que muitos foram mesmo empurrados para fora. Também por esta razão a narrativa dos professores a mais é ... isso mesmo, uma narrativa.
De uma vez por todas, é necessário contenção e combate ao desperdício, mas em educação não há despesa há investimento.

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