AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 8 de abril de 2019

A INDÚSTRIA DO SUCESSO ESCOLAR


Os alunos do ensino básico e do secundário iniciam hoje as férias da Páscoa. No entanto, muitos alunos terão as suas férias escolares bem preenchidas por … actividades escolares, vamos entrar na época alta das “explicações”.
De facto, um passeio pelas proximidades das escolas mostra a abundância da oferta de ajudas fora da escola, antes conhecidas por “explicações” e agora com designações mais sofisticadas como “Centro de Estudos”, “Ginásios”, etc., que, provavelmente, terão mais efeito “catch” no sentido de atingir o “target”. Ainda temos a oferta mais personalizada, as “explicações” em casa dos explicadores. O mercado está sempre atento
Desde o início do ano lectivo mas sobretudo a partir das férias da Páscoa é frequente o aumento significativo à ajuda externa visando a “recuperação” para o terceiro período e, sobretudo, a preparação para os exames.
Face à reversão, como agora se diz, na realização de exames do 1º e 2º ciclo e a reintrodução das provas de aferição, designação incorrecta pois não são de aferição quando realizadas a meio do ciclo, tem-se verificado no ensino básico um abaixamento da procura deste tipo de apoios mas que ainda assim e apesar das dificuldades das famílias se mantém em alta, sobretudo no secundário.
Apesar de nada ter contra a iniciativa privada desde que regulada e com enquadramento legal, várias vezes tenho insistido no sentido de entender como desejável que os apoios e ajudas de que os alunos necessitam fossem encontrados dentro das escolas e agrupamentos. O impacto no sucesso dos alunos minimizaria, certamente, eventuais custos em recursos que, aliás, em alguns casos já existem dentro do sistema.
Esta minha posição radica no entendimento de que a procura “externa” de apoios, legítima por parte das famílias, tem também como efeito o alimentar da desigualdade de oportunidades e da falta de equidade como tem sido regularmente sublinhado, por exemplo, em relatórios da OCDE.
Recordo estudos realizados pelo CNE e pela Fundação Francisco Manuel dos Santos que evidenciam algo de muito significativo apesar de bem conhecido e reconhecido, nove em cada dez alunos com insucesso escolar são de famílias pobres.
A ajuda externa ao estudo como ferramenta promotora do sucesso não está ao alcance de todas as famílias pelo que é fundamental que as escolas possam dispor dos dispositivos de apoio suficientes e qualificados para que se possa garantir, tanto quanto possível, a equidade de oportunidades e a protecção dos direitos dos miúdos, de todos os miúdos.
A substituição dos exames pelas provas de aferição não altera esta necessidade imperiosa, antes pelo contrário, torna-a ainda mais pertinente para que se possam corrigir e apoiar ao longo dos vários ciclos as dificuldades de alunos e professores.
O abaixamento verificado na procura que alguma imprensa divulga talvez traduza a menor importância atribuída pelas famílias às provas de aferição e às suas próprias dificuldades económicas.
As necessidades dos alunos poderiam ser atenuadas com o recurso a professores que já estão no quadro ou com contratos sucessivos. Também por estas razões a narrativa dos professores a mais é ... isso mesmo, uma narrativa que, aliás, começa a ficar evidente com a dificuldade contratação de docentes em diferentes escolas durante os primeiros meses do ano lectivo.
De uma vez por todas, é necessário contenção e combate ao desperdício, mas em educação não há despesa há investimento.

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