AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 5 de março de 2019

E AGORA NO PARLAMENTO?


Terminaram sem qualquer tipo de acordo as reuniões entre o ME e os representantes dos professores relativamente à contagem do tempo de serviço congelado durante os mais famosos nove anos, quatro meses e dois dias dos nossos tempos. Não era previsível outro resultado aguardando-se agora os próximos capítulos que muito provavelmente passarão pelo Parlamento.
O Governo voltará a aprovar uma proposta de Decreto-lei com a mesma posição que será enviada para promulgação do Presidente da República. Não tendo dúvidas sobre questões de constitucionalidade, que parecem existir, teremos a promulgação. Por outro lado, espera-se que por iniciativa de algumas bancadas partidárias, Bloco e PCP já o anunciaram, ou outras iniciativas legislativas a situação volte ao Parlamento para apreciação.
Os representantes dos professores entregarão uma petição com 61 mil assinaturas exigindo a devolução de todo o tempo de serviço que poderá ser discutida. Curiosamente, a Fenprof e a FNE recusaram o apoio a uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos com milhares de assinaturas “visando a votação em plenário de uma proposta de lei destinada à “consideração integral do tempo de serviço docente prestado durante as suspensões de contagem anteriores a 2018, para efeitos de progressão e valorização remuneratória." Esta Iniciativa Legislativa foi já aceite para ir a plenário apesar de algumas vicissitudes, para ser simpático na apreciação.
Antecipo que as contas eleitorais e a caça ao voto serão mais determinantes que a apreciação da bondade da pretensão dos docentes que, aliás, não parece suscitar dúvidas, trata-se de cumprir o quadro legal. As diferentes bancadas farão certamente juras de amor aos professores e à justiça das suas posições, esquecendo algumas responsabilidades. Os deputados do PS ficarão, por assim dizer, "entalados" e será interessante perceber a sua posição. O PSD já afirmou que apesar de considerar “justa” a posição dos professores não votará com o PCP e BE mas ... estão aí as eleições.
Também me parece previsível, gostava de estar enganado, que para minimizar prováveis danos nas contas eleitorais se assistirá a um encarniçamento da diabolização dos professores e das suas posições como tem sido frequente em boa parte do que a imprensa e muitos opinadores “tudólogos” têm produzido sobre educação nos últimos dias. Para além da indignação pela falta de seriedade intelectual, (não acredito na ignorância), tem-me causado alguma tristeza. Recordo o mais recente exemplo de uma "Procuradora" ridícula, patética e ignorante, Manuela Moura Guedes, ou a recorrente prosa arrogante e ignorante de Miguel Sousa Tavares para além da própria estratégia de comunicação do ME. Também entendo que alguns discursos dos representantes dos professores não serão o melhor dos contributos para a defesa da bondade das suas posições.
O que me parece mais curioso e preocupante é que esta discussão seja alimentada também por uma agenda que dela se serve para diabolização dos professores, as pessoas a quem entregamos os nossos filhos todos os dias.
A discussão serve também para que se possa atacar a escola pública e o esforço e a competência da esmagadora maioria dos que nela trabalham.
Continuam a aparecer na comunicação social nos seus vários formatos intervenções que produzidas pelos “falcões” habituais ou caceteiros de ocasião são intelectualmente desonestas, escondendo realidades sobre os professores e o seu trabalho e o trabalho de alunos e escolas e recorrendo às tão em moda “fake news”, factos alternativos.
Como escrevi vejo muita gente ligada à educação considerar como ignorantes as afirmações de muitos desses opinadores. Não sejamos ingénuos, não é ignorância, é guerra política pura e dura.
Como cantava o Fausto, “a guerra é a guerra”.
Recordo ainda mítica afirmação de 2006 da então Ministra Maria de Lourdes Rodrigues, “perdi os professores mas ganhei a opinião pública”.
Não, não ganhou, os professores continuam a ser uma das três classes profissionais que merecem maior confiança dos portugueses.

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