Segundo os dados mais recentes do
ME continuam em queda as taxas de retenção no 1º e 2º ciclo, dados de 2016/2017.
No entanto, o 2º ano continua com valores críticos, 7%. Existem 23 escolas com 100% dos alunos retidos neste ano de escolaridade, boa parte delas, 13, com menos de 20 alunos.
Algumas notas retomadas de
escritos anteriores sobre esta questão permanentemente em discussão e sujeita a
uma imensidade de opiniões, visões e equívocos, o chumbo escolar.
No final do ano passado o CNE
divulgou o Relatório “Estado da Educação, 2017” onde já constavam estes
indicadores e analisados em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos
no âmbito do Projecto aQeduto incluindo numa vertente económica. Em termos económicos e recorrendo
aos estudos já desenvolvidos o impacto económico da retenção é estimado em
cerca de 6000€ por aluno em cada ano.
Adaptando o modelo desenvolvido
pela Education Endowment Foundation, o Projecto aQeduto identificou o grau de eficácia
e custo económico de um elenco de medidas de combate ao insucesso. Das medidas
analisadas, a retenção tem o custo mais elevado e a eficiência é negativa,
promove um atraso de 4 meses. Ensinar a estudar é a medida mais económica, 87€,
e mais eficiente, promove um ganho de 8 meses de aprendizagem.
Estes dados são importantes mas a
sua substância não é nova.
Recordo que no Relatório
“Low-Performing Students - Why They FallBehind and How To Help Them Succeed”
divulgado pela OCDE em 2017 se evidencia que o “chumbo”, a retenção, é para os
alunos portugueses o principal factor de risco para os resultados na avaliação
posterior, dito de outra maneira, os alunos chumbam … mas não melhoram.
De facto, definitivamente, não
adianta discutir se o chumbo transforma o insucesso em sucesso. Não transforma,
repetir só por repetir não produz sucesso, aliás gera mais insucesso conforme
os estudos mostram.
Confesso sempre alguma surpresa e
dificuldade em compreender quando ao discutir-se os efeitos pouco positivos da
retenção algumas vozes, mesmo dentro do universo da educação, clamam que se
está a promover o "facilitismo" ou a defender que "então passam
sem saber". A leitura das caixas de comentários às notícias sobre estas
questões é elucidativa.
Nesta conformidade e do meu ponto
de vista, a questão central não é o chumba, não chumba, e quais os critérios ou
o número de exames, mas sim que tipo de apoios, que medidas e recursos devem
estar disponíveis para alunos, professores e famílias desde o início da percepção
de dificuldades com o objectivo de evitar a última e genericamente ineficaz
medida do chumbo.
Este discurso não tem
rigorosamente a ver com "facilitismo" e, muito menos, com melhoria
"administrativa" das estatísticas da educação, uma tentação a que nem
sempre se resiste. Pelo contrário, “facilitismo” é acreditar que a retenção
resolve o problema do insucesso.
É essencial promover e tornar
acessíveis a alunos, professores e famílias apoios e recursos adequados e
competentes de forma a evitar a última e genericamente ineficaz medida do
chumbo. É fundamental não esquecer que o insucesso continua a atingir
fundamentalmente os alunos oriundos de famílias com pior condição económica e
social pelo que inibe o objectivo da mobilidade social. A associação entre o insucesso
e a pobreza em Portugal é, aliás, a mais forte entre os países europeus. Em
Portugal os bons alunos são os que mais trabalham em casa, TPC e explicações,
dado a que, evidentemente, não é alheio ao nível de escolaridade dos pais e ao
estatuto económico. É necessário também diversificar percursos de formação com
diferentes modelos curriculares e carga lectiva finalizando sempre com algum
tipo formação profissional. Esta diferenciação não deve acontecer em idades
precoces criando percursos irreversíveis de "segunda" para os
"sem jeito para a escola" e "preguiçosos".
A qualidade promove-se, é certo e
deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, sim,
naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho dos professores, com a
definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio
a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas
educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos
adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento desburocratizado
das escolas, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.
É o que acontece, genericamente,
nos países com mais baixas taxas de retenção escolar.
É o que tarda em acontecer de forma consistente em
Portugal.
Li o seu texto e não posso estar mais de acordo com as medidas que preconiza para combater a cultura ds retenção. Mas pergunto: e quando os alunos chegam ao fim do ano letivo e têm um elevado número de disciplinas com insucesso? A responsabilidade é sempre do professor?
ResponderEliminarOlá Teresa, parece-me importante referir que responsabilidade não é o mesmo que culpa e, sobretudo, que o sucesso (ou insucesso) do aluno é um quadro complexo e variado de que o professor e o seu trabalho representam "apenas" uma das dimensões ainda que com um papel crucial.
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