Como é sabido, em qualquer país e
em particular no nosso, o universo da educação é um rio de águas calmas em que
tudo decorre tranquilamente apenas com a agitação própria da idade dos alunos e da sua irreverência, por assim dizer.
Assim sendo, torna-se necessário
que de vez em quando surjam alguns episódios que criem alguma discussão que
proporcione convívio e troca de impressões.
Desta vez temos a questão do poema Ode Triunfal, de Álvaro de Campos. Na elaboração do manual Encontros para
o 12º ano da responsabilidade da Porto Editora, numa obra de Fernando Pessoa
escolhida para o integrar, “Ode Triunfal”, foram substituídos dois versos por questões
de linguagem (explícita chamam-lhe para minha surpresa) e valores. A chamada
liberdade poética não mereceu acolhimento.
A Porto Editora diz que no manual
dirigido aos professores o texto está completo cabendo a estes decidir se e
como abordar a obra. A Associação Nacional de Professores de Português através
da sua presidente critica fortemente a “truncagem”.
Das duas uma, a obra de Álvaro de
Campos cumpre os critérios de relevância que sustentem o seu estudo pelos
alunos do 12º e, portanto, deve ser disponibilizada na íntegra ou, não cumpre,
e a escolha deveria ser outra.
A discussão sobre esta matéria
que envolve em leitura do texto por gente acima dos 17 anos no ano da graça de
2019 é algo que do meu ponto de vista faz pouco sentido e sustentada por moralismo inconsistente. Este episódio remete
para os meus tempos de liceu quando nas aulas de Português estudávamos os
Lusíadas mas não abordagem o Canto Nono dos Lusíadas e a sua Ilha dos Amores, a
parte mais estimulante da obra de Camões que, evidentemente, líamos pelo amor à
literatura.
Com tantos problemas e
dificuldades diárias porquê criar mais ruído? Como é que se decide solicitar a
gente de jovem quase adulta para lerem um poema mas não aquelas duas linhas?
Não sei porquê lembrei-me da
imortal “Cena do Ódio” do Mestre Almada, aliás, dedicada a Álvaro de Campos:
(…)
Tu, qu'inventaste a chatice e o
balão,
e que farto de te chateares no
chão
te foste chatear no ar,
e qu'inda foste inventar
submarinos
p'ra te chateares também por
debaixo d'água,
(…)
Completamente de acordo.
ResponderEliminarDepois fica-me a dúvida se foi a Porto Editora que resolveu banir versos e se sim, quem é a Porto Editora para tomar tal liberdade, ou se foi o ministéria da educação e se sim, ainda é mais grave.
A responsabilidade será dos editores e autores.
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