Estava convicto que as
manifestações convocadas para hoje não teriam a adesão de que alguns falavam. Não
temos na nossa história recente movimentos desta natureza com impacto e a
suscitar adesão significativa. As manifestações com mais gente, salvo algumas
excepções, recordo a manifestação dos professores em 8 de Março de 2008,
ocorrem ligadas às máquinas sindicais ou partidárias que, em muitos casos, não
se dissociam.
No entanto, também é minha convicção
que muita gente sentirá, não digo uma raiva, mas uma grande inquietação a
crescer nos dentes. Esta inquietação decorre de mal-estar no presente e
parece também associada a angústias, perplexidades e dúvidas face ao futuro. Neste contexto creio que apesar da forma como correu hoje esta iniciativa voltará.
O quadro internacional é
assustador, os movimentos populistas, extremistas e xenófobos ganham espaço e
capitalizam com a criação de “responsáveis” essa inquietação e mal-estar. Já
conhecemos esta narrativa e os seus efeitos trágicos. A mediocridade das
lideranças, a manipulação e desinformação através das redes sociais e da mais
despudorada e criminosa campanha de produção de “realidade” a que muita gente
adere é mais um poderoso ingrediente.
Julgo que o caminho terá
necessariamente de passar pelo recentrar do desenvolvimento no bem-estar das
pessoas que liderará o funcionamento das economias e dos mercados abertos. Não
podemos aceitar o aumento da concentração da riqueza e das disparidades em
escala global ou nacional, a insustentabilidade do ambiente, a exclusão e a
pobreza alimentados com os mercados a liderar.
Urge um regresso à política no
sentido mais robusto e ético do termo, a promoção do bem- estar das pessoas.
Há pouco cruzei-me com umas dezenas de “coletes amarelos”. Três grupos de
crianças do pré-escolar bem arrumadas no passeio de regresso à escola todas
equipadas de colete amarelo e acompanhadas por adultos também identificados.
Terão mostrado que existem e esperam um presente e, sobretudo, um futuro sustentados
e sustentáveis.
Não podemos falhar.
PS – Verdadeiramente deplorável e
vergonhoso foi o acompanhamento das manifestações por parte da imprensa
televisiva. Quase que exigiam aos manifestantes que se tornassem violentos,
agredissem alguém, insultassem quem quer que fosse para que o “directo” fosse
estimulante. Boa parte do trabalho da imprensa é parte do problema mas, tem que
se dizer, a imprensa tem de obrigatoriamente fazer parte da solução.
Visitando, vendo, lendo, elogiando a publicação, e desejando:- Um Natal cheio de amor, prendinhas, convívio, e muita Paz e Saúde. Festas felizes.
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