No DN encontra-se um trabalho sobre
as designadas (do meu ponto de vista erradamente) por turmas mistas, turmas do
1º ciclo constituídas por alunos dos quatro anos de escolaridade. Sobretudo por
razões demográficas mas também fruto das opções seguidas nos últimos anos na
reorganização da rede escolar tem aumentado o número de turmas nesta situação.
Este cenário é genericamente
entendido como um risco para a qualidade e resultados positivos do trabalho de
alunos e professores. Era, por exemplo, o entendimento do Conselho Nacional de
Educação quando presidido por David Justino e percebe-se a abordagem.
No entanto, não tem que acontecer
assim, na peça do DN também se divulgam situações bem-sucedidas e recordo uma
experiência divulgada pelo Público em 2016 de uma escola de uma aldeia do
concelho de Santarém composta por alunos do 1º ciclo a frequentar os diferentes
anos de escolaridade, do 1º ao 4º. Nesta turma, devido às estratégias adoptadas
pelo professor titular e pelo Agrupamento o trabalho tem sido bem-sucedido
sublinhando-se que esta turma tinha 18 alunos.
Algumas notas estas estranhamente
chamadas turmas mistas.
Em primeiro lugar importa
sublinhar que o trabalho do professor é uma variável individual fortemente contributiva
para o sucesso do trabalho dos alunos, algo que tantas vezes é esquecido a ver
pelos tratos sofridos pelos docentes e pelas suas condições de trabalho.
Em segundo lugar é preciso
existir um quadro de autonomia e desburocratização que permita a direcções e professores encontrar,
face às suas especificidades de contexto, a melhor forma de organizar os alunos
e os dispositivos de apoios ao seu trabalho e ao dos professores.
Mais autonomia sustenta melhor
trabalho, é assim na generalidade dos sistemas educativos. No entanto, falar
recorrentemente de autonomia não é o mesmo que promover, de facto, a autonomia
de escolas e agrupamentos, matéria onde há muito que fazer.
É ainda relevante que a dimensão
das turmas seja compatível com o seu perfil diversidade nos anos de
escolaridade dos alunos o que nem sempre se verifica.
Do ponto de vista curricular e
apesar da “flexibilidade” em vigor, creio que decorrente da forma como está a
ser operacionalizada possa ainda existir um trabalho ligado à “cultura” das
metas curriculares e da “manualização” excessiva do ensino que dificulta a
resposta à diversidade dos alunos potenciada pela existência de diferentes anos
de escolaridade.
Acresce ainda a disparidade de
práticas na resposta às dificuldades dos alunos, designadamente, nos alunos com
necessidades especiais cujo processo está em mudança acentuada. Torna-se
imprescindível a existência de recursos adequados e suficientes.
Na verdade, a existência de
alunos de diferentes anos de escolaridade na mesma turma não tem que
necessariamente ser um problema inultrapassável e com consequências negativas
inevitáveis. Mas é bom que que se assegurem as condições necessárias.
Caso contrário, pode ser mesmo um problema, não uma solução.
Caso contrário, pode ser mesmo um problema, não uma solução.
Esta opinião só pode ser de alguém que desconhece o que é realmente trabalhar com turmas mistas.. Façam uma sondagem junto dos professores do 1º ciclo e tenho a certeza que mais de 90% dirão o contrário...
ResponderEliminarE analisem os resultados não apenas de uma turma "modelo" onde, alegadamente, correu bem...
Agradeço o comentário J. Gaspar. Conhecendo a realidade como será o seu caso e tal como na peça do DN se retrata, existem muitas situações em que a alternativa às chamadas turmas mistas seria a insustentável criação de turmas de muito poucos alunos por cada ano.
ResponderEliminarO que eu procurei dizer não remete para a defesa das turmas mistas em sim mesmas mas que quando se torna necessário este modelo, com os apoios e recursos adequados, pode ser de facto uma solução e não um problema.
Conheço muitas situações em que as coisas correm bem, tão bem quanto pode correr o trabalho educativo numa sala de aula que nunca é fácil. Mas também conheço situações de grandes dificuldades que, no meu entendimento, não são uma fatalidade, podem e devem ser minimizadas.