O Projecto Geração 21 é um estudo
longitudinal de âmbito europeu que em Portugal acompanha 8600 crianças nascidas
em 2005 na área metropolitana do Porto e que são regularmente avaliadas em
diferentes dimensões.
A avaliação mais recente
considera a idade 12 e 13 anos em que estão as crianças seguidas. Os dados já
conhecidos são importância significativa.
Para além de informação que
merece a maior reflexão relativos, por exemplo, aos estilos alimentares e
excessos e desequilíbrios evidentes, no âmbito dos processos educativos também
emergem alguns indicadores que justificam análise séria.
Por razões de espaço retomo um
deles que muitas vezes abordo quer aqui, quer em espaços e contextos de intervenção
profissional, conversas com pais, por exemplo, a pouca autonomia deste grupo etário
e a forma como a promovemos ... ou não.
De há muito e sempre que penso ou
falo de educação afirmo que a autonomia é a essência da educação, seja familiar
ou escolar, em qualquer idade.
De facto, o que se pretende num
processo educativo será a construção de gente que sabe tomar conta de si
própria da forma adequada à idade e à função que em cada momento se desempenha.
Este entendimento traduz-se num esforço contínuo de promover a autonomia das
crianças e jovens para que "saibam tomar conta de si próprios", no
fundo, a velha ideia de, "ensinar a pescar, em vez de dar o peixe".
Torna-se, pois necessário que proactivamente
adoptemos comportamentos que favoreçam esta autonomia dos miúdos e dos jovens
como também é necessário que sejamos consistentes na definição de regras e
limites que regularão as suas decisões. No entanto, é minha convicção que por
razões que se prendem com os estilos de vida, com os valores culturais e
sociais actuais, com as alterações das sociedades, questões de segurança, por
exemplo, estamos a educar os nossos miúdos de uma forma que não me parece, em
termos genéricos, promotora da sua autonomia.
As crianças são permanentemente
solicitadas para a aquisição de saberes e realização de actividades que serão
obviamente importantes para o seu desenvolvimento e para o seu futuro mas, ao
mesmo tempo, são miúdos, pouco autónomos, pouco envolvidos nas decisões que
lhes dizem respeito cumprindo agendas que lhes não dão margem de decisão sobre
o quê e o porquê do que fazemos ou não fazemos. Acabam por se tornar menos
capazes de decidir sobre o que lhes diz respeito, dependem da "decisão” de
quem está à sua volta, companheiros ou adultos.
Boa parte do comportamento desregulado
em contexto escolar ou familiar que observamos em crianças e adolescentes
radica na sua baixa capacidade auto-regulação pois, sabendo obviamente quais
são os comportamentos adequados em cada contexto é “incapaz” de decidir
assumi-los quando ainda consegue ser apoiado por boa parte dos pares no seu “mau
comportamento”. Um exemplo, para clarificar. Um adolescente não habituado a
tomar decisões, a fazer escolhas, mais dificilmente dirá não a uma oferta de um
qualquer produto ou um a convite de um colega para um comportamento menos
desejável. É mais difícil dizer não do que dizer sim aos companheiros da mesma
idade. Num sala de aula é bem mais provável que um adolescente tenha um
comportamento adequado resistindo à aprovação que teria por parte de muitos
colegas porque "decida" que é assim que deve ser, do que por
"medo" das consequências ou .
Só crianças, adolescentes e
jovens autónomos, autodeterminados, informados e orientados sobre os riscos e
as escolhas serão mais capazes de dizer não ao que se espera que digam não e
escolher de forma ajustada o que fazer ou pensar em diferentes situações do seu
quotidiano, na sala de aula, no bairro ou em casa. Este entendimento sublinha a
importância de em todo processo de educação, logo de muito pequeno, em casa e
na escola, se estimular a autonomia dos miúdos. É que se eles não tomarem bem
conta se si passaremos, pais e professores, boa parte do tempo a "tomar
conta deles" e ... muitas vezes não conseguimos. O clima o comportamento em
muitos contextos familiares e em muitas salas de aulas é eloquente
relativamente a esta questão.
Creio que este entendimento está
pouco presente em muito do que fazemos em matéria de educação familiar ou
escolar e para todos os miúdos.
Todos beneficiariam, miúdos e
adultos, professores ou pais.
Inteiramente de acordo. Vou partilhar professor.
ResponderEliminarAbraço da Teresa e do Delfim