O Conselho Nacional de Educação
divulga hoje o Relatório “Estado da Educação, 2017”.
O Relatório ainda não está
disponível mas alguns conteúdos são já divulgados pela imprensa. Como é
habitual pela natureza destes relatórios existem múltiplas matérias que
justificam reflexão. Iremos referenciá-las por aqui.
Tal como em relatórios anteriores
do CNE sob a responsabilidade de David Justino e no âmbito do Projecto aQeduto
em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos, temos informação
importante sobre a retenção dos alunos ao longo da escolaridade obrigatória e um cálculo das implicações económicas dos níveis de retenção.
Uma primeira nota para salientar
que os verificados em 2016/2017 são os mais baixos da última década.
No entanto, ainda continuamos com
indicadores preocupantes.
Por anos, o 2º com 7.4% de
retenção, o 7º com 11.4% e o 9º os dados são significativos.
Em termos económicos e recorrendo
aos estudos já desenvolvidos o impacto económico da retenção é estimado em
cerca de 6000€ por aluno em cada ano.
Adaptando o modelo desenvolvido pela
Education Endowment Foundation, o Projecto aQeduto identifica o grau de eficácia e
custo económico de um elenco de medidas de combate ao insucesso. Das medidas
analisadas, a retenção tem o custo mais elevado e a eficiência é negativa,
promove um atraso de 4 meses. Ensinar a estudar é a medida mais económica, 87€,
e mais eficiente, promove um ganho de 8 meses de aprendizagem.
Estes dados são importantes mas a
sua substância não é nova.
Recordo que no Relatório
“Low-Performing Students - Why They FallBehind and How To Help Them Succeed” divulgado
pela OCDE em 2017 se evidencia que o “chumbo”, a retenção, é para os alunos
portugueses o principal factor de risco para os resultados na avaliação
posterior, dito de outra maneira, os alunos chumbam … mas não melhoram.
De facto, definitivamente, não
adianta discutir se o chumbo transforma o insucesso em sucesso. Não transforma,
repetir só por repetir não produz sucesso, aliás gera mais insucesso conforme
os estudos mostram.
Confesso sempre alguma surpresa e
dificuldade em compreender quando ao discutir-se os efeitos pouco positivos da
retenção algumas vozes, mesmo dentro do universo da educação, clamam que se
está a promover o "facilitismo" ou a defender que "então passam
sem saber". A leitura das caixas de comentários às notícias sobre estas
questões é elucidativa.
Nesta conformidade e do meu ponto
de vista, a questão central não é o chumba, não chumba, e quais os critérios ou
o número de exames, mas sim que tipo de apoios, que medidas e recursos devem
estar disponíveis para alunos, professores e famílias desde o início da
percepção de dificuldades com o objectivo de evitar a última e genericamente
ineficaz medida do chumbo.
Este discurso não tem rigorosamente a ver com "facilitismo" e, muito
menos, com melhoria "administrativa" das estatísticas da educação,
uma tentação a que nem sempre se resiste. Pelo contrário, “facilitismo” é
acreditar que a retenção resolve o problema do insucesso.
É essencial promover e tornar
acessíveis a alunos, professores e famílias apoios e recursos adequados e
competentes de forma a evitar a última e genericamente ineficaz medida do
chumbo. É fundamental não esquecer que o insucesso continua a atingir
fundamentalmente os alunos oriundos de famílias com pior condição económica e
social pelo que inibe o objectivo da mobilidade social. A associação entre o
insucesso e a pobreza em Portugal é, aliás, a mais forte entre os países
europeus. Em Portugal os bons alunos são os que mais trabalham em casa, TPCs e
explicações, dado a que, evidentemente, não é alheio ao nível de escolaridade
dos pais e ao estatuto económico. O Relatório deste ano do CNE mostra como
referi em cima um conjunto de medidas com diferentes níveis de eficácia e
custos.
É necessário também diversificar
percursos de formação com diferentes modelos curriculares e carga lectiva finalizando
sempre com algum tipo formação profissional. Esta diferenciação não deve
acontecer em idades precoces criando percursos irreversíveis de
"segunda" para os "sem jeito para a escola" e
"preguiçosos".
A qualidade promove-se, é certo e
deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, sim,
naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho dos professores, com a
definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio
a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas
educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos
adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento desburocratizado das escolas, com a
definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.
É o que acontece, genericamente,
nos países com mais baixas taxas de retenção escolar.
É o que não tem acontecido em
Portugal.
Se a inspeção fizer o que fez no ensino secundário vai perceber que os meninos passam sem saber ler e não percebem nada de matemática. A partir daí é um acumular de dificuldades... Só famílias que pagam a peso de ouro as explicações conseguem obter sucesso real.
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