Agradecendo a divulgação feita
pelo Paulo Prudêncio no blogue Correntes, registe-se a qualidade deste espaço
da blogosfera, refiro algo que nos está longe mas merece atenção. Singapura
decidiu abolir os rankings escolares com base nos resultados em exames bem como
não divulgar outras informações de natureza comparativa sobre o desempenho escolar dos alunos.
A decisão, de acordo como o
Ministro da Educação, Ong Ye Kung, assenta no princípio a promover junto dos alunos e
famílias que “aprender não é uma competição”.
A decisão é ainda mais surpreendente
considerando a posição cimeira habitualmente ocupada por Singapura nos estudos
comparativos internacionais e na fortíssima cultura de defesa destes
dispositivos.
Esta decisão merece umas notas pois
muitas vezes aqui fomos abordando a questão dos rankings.
Na última vez que aqui me referi
à questão afirmei que apesar de continuar com dificuldade em defender a sua
bondade não tenho uma atitude fundamentalista face à sua construção, sobretudo
considerando a evolução que se tem verificado nos últimos anos, quer na
disponibilização de informação por parte do ME para além dos “meros” resultados
da avaliação externa, quer na forma como essa informação é tratada e divulgada
por diferentes entidades.
No entanto, apesar da muita
informação revelada, os rankings mostram tudo, só não mostram o que se fará a
seguir com a informação que os rankings mostram. Na verdade, também não mostram
o que não se pode medir mas se pode avaliar e que é tão essencial como o que se
mede. Dito de outra maneira, “Qual tem sido o contributo significativo da
organização e divulgação destes “rankings” para a melhoria da qualidade do
sistema?”.
Sendo um defensor intransigente
de uma cultura e prática de exigência, avaliação e qualidade, parece-me bem
mais importante o aprofundamento dos mecanismos de autonomia e
responsabilização e a constituição obrigatória em todos os agrupamentos ou
escolas de Observatórios de Qualidade (muitas têm) que integrem também
elementos exteriores à escola. Existem capacidade técnica e recursos
suficientes. O trabalho realizado por esses Observatórios, este sim, deveria
ser divulgado e discutido em cada comunidade e passível de leituras cruzadas
com dados nacionais.
Ainda a propósito, Gert Biesta da
Universidade Stirling numa obra notável, "Good Education in a Age of
Measurement - Ethics, Politics, Democracy", afirma que uma obsessão
centrada na medida, assenta na gestão continuada de uma dúvida, "medimos o
que valorizamos ou valorizamos o que medimos?". NO mesmo sentido e numa entrevista
ao Público em 2011, o Professor Biesta afirmava sugestivamente, “Os rankings
são muito antiquados e não devem ter lugar numa sociedade civilizada".
Aliás, nesta altura assisti a uma sua notável conferência sobre a questão da
medida e da avaliação em educação.
Uma pequena curiosidade relativa
a Singapura. Em 2014 o Expresso dedicou um trabalho a alguns países asiáticos
que habitualmente ocupam lugares cimeiros nos estudos comparativos internacionais.
Foram referidas as experiências de famílias portuguesas com filhos nesses
sistemas educativos. Uma mãe referiu que em Singapura uma das primeiras coisas que mais a
impressionou foi a dimensão das filas de crianças à porta dos centros de
explicações ao fim de semana, "parecem formigas", "No 6º ano os
alunos são submetidos a um exame nacional, Só os mais bem classificados acedem
às escolas secundárias de elite, a que todos aspiram". Uma outra mãe
portuguesa também em Singapura afirmou "Há a assumpção de que todos têm de
ser bem-sucedidos. Quem tem mais dificuldade é posto de parte. Estão a surgir
cada vez mais casos de depressão entre as crianças".
Como escrevi na altura, não quero
esta escola e esta educação para os meus netos e para todos os outros miúdos.
Pode ser que a decisão agora tomada mostreque é possível que a
imprescindibilidade de avaliar e medir em educação não tem que a transformar
numa competição exacerbada e promotora de mal-estar.
Obrigado com aquele abraço do paulo Prudêncio.
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