AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

PROIBIDO A CRIANÇAS. DEPOIS, PROIBIDO A ...


Na passagem de olhos pela imprensa tropecei com uma notícia referindo um restaurante alemão que não permite a presença de crianças com menos de 14 anos depois das cinco da tarde. O motivo prende-se, naturalmente, com o comportamento e barulho produzido e o incómodo causado a outros clientes.
Segundo o responsável, o problema decorre da atitude dos pais que não sabem ou não querem tomar conta delas, face aos incómodos, afirma, “reconhecem isso com um sorriso, continuam a comer e não querem saber de todo".
Com cada vez maior regularidade surgem notícias sobre espaços de diferente natureza que em nome do sossego e da tranquilidade proíbem ou, para ser mais simpático, condicionam o acesso a crianças.
Creio que foi já em 2017 que a Visão fez um trabalho sobre isto com o qual colaborei.
Começa por se praticar de forma discreta o condicionamento, corrige-se se despertar algum alarido até melhor oportunidade, volta a insistir-se e alargam-se de mansinho as práticas de “limpeza etária”.
Há uns atrás, creio que em 2011, a Ryannair anunciou a intenção de voos proibidos a crianças que creio não ter avançado.
No entanto existem unidades hoteleiras ou de restauração que têm essa interessante atitude de proibir a entrada a crianças.
Recordo que há uns tempos o conhecido tudólogo Miguel Sousa Tavares também sustentou que as crianças nos restaurantes podiam ser tão incomodativas como o fumo dos seus cigarros e, contrariamente ao fumo, não são proibidas.
Estas posições parecem-me interessantes. É de notar que logo surgem apoiantes e existe certamente um nicho de mercado, já identificado evidentemente, que quer viver longe das crianças estando, por isso, disposto até a pagar um pouco mais só para não correr o risco de levar com uns putos mal-educados a estragar a viagem, a estadia no hotel ou spa, ou a refeição.
Talvez nas companhias aéreas se possa pensar na hipótese das crianças poderem viajar em condições especiais como os animais de companhia.
Com é evidente, todos temos histórias destas, não é uma experiência particularmente agradável ter como companhia de viagem ou de refeição miúdos que se comportam como ditadores, miúdos desregulados no comportamento e muitas vezes acompanhados dos respectivos papás que por incompetência ou negligência são incapazes de manter os miúdos tranquilos. Como é óbvio, temos o direito à tranquilidade.
Só que a questão é a natureza da educação que os miúdos têm, regulação, regras e limites a menos, e não a proibição da sua presença, os miúdos não são todos assim e, por outro lado, todos já fomos miúdos. 
Existem muitos adultos que me incomodam e não vejo como proibir a presença de adultos a bordo dos aviões ou noutro qualquer espaço.
Um dia destes pode pensar-se em proibir a presença de velhos, são chatos, sempre a contar histórias, as mesmas histórias. Também pode proibir-se a presença de gente obesa, torna o espaço mais apertado para as outras pessoas. Também se poderia proibir a presença de profissionais da política, incomodam demasiada gente. Não têm limite os exemplos que poderemos antecipar.
Este tipo de discurso mostra, também, de que são feitos alguns dos tempos que vivemos, putos desregulados, a crescer sem regras e gente intolerante, a criar guetos sucessivos e cada vez mais exclusivos.
Vão acabar sós.
No entanto, talvez possamos ter uma outra via. Depois do trabalho da Visão em 2017 encontrei no JN a referência a um restaurante de Pádua, Itália, que fez um desconto significativo na conta de grupo familiar devido ao comportamento exemplar das crianças durante a refeição. Tem mais piada que a proibição e pode ser um incentivo às famílias na sua acção educativa.

2 comentários:

  1. Li a mesma notícia sobre a Alemanha e subscrevo a atitude. Experimente o Zé passar por uma escola no intervalo (nem me atrevo a falar na própria sala de aula). Experimente o Zé pedir a cada adulto a descrição de cada criancinha - será de ir às lágrimas. Lágrimas de desespero de outros adultos, que aturam má educação de uns e de outros.

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  2. Claro que como disse no texto percebo a situação. A minha questão é que a proibição não resolve coisa alguma até porque é uma questão que se porá sem ser em restaurantes, temos aviões, espectáculos e muitos outros espaços públicos. Também tenho de aturar diariamente em diferentes contextos comportamentos deploráveis e incomodativos,estou a ser simpático, e será difícil ir proibindo aos poucos todos os que nos incomodam. Temo que acabemos sozinhos. Também conhçe e certamente você também de gente nova que se "porta bem" e não poderia ir com a família a um qualquer restaurante "só" porque são novos.

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