AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 27 de junho de 2018

POBREZA E EDUCAÇÃO


De acordo com o JN, o Ministério da Educação terá decidido que as cantinas de todas as escolas públicas funcionarão durante os períodos de férias de Natal e Páscoa no próximo ano lectivo.
Nunca é demais chamar a atenção para a situação de extrema dificuldade que muitas famílias ainda atravessam para assegurar condições básicas de qualidade de vida como a alimentação.
Sabe-se também que as crianças e idosos constituem grupos altamente vulneráveis a situações de privação.
É também conhecido que muitas crianças e adolescentes encontram na escola a única refeição consistente e equilibrada a que acedem levando a que em muitas autarquias as cantinas escolares funcionem também no período de férias ou de interrupção de aulas.
O impacto das circunstâncias de vida no bem-estar das crianças, em particular no rendimento escolar e comportamento, é por demais conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás, um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades básicas.
Em qualquer parte do mundo, miúdos com fome, com carências, não aprendem e mais provavelmente vão continuar pobres. Manteremos as estatísticas internacionais referentes a assimetrias e incapacidade de proporcionar mobilidade social através da educação. Não estranhamos. Dói mas é “normal”, é o destino.
Como muitas vezes já contei, a melhor análise que já ouvi sobre esta relação, alimentação e educação, foi produzida pelo Velho Carlos Bata, um homem velho e sem cursos, meu anjo da guarda durante uma estadia profissional em Inhambane, Moçambique.
Um fim de tarde, descíamos uma rua e passámos por uma escola básica. Olhou para escola e para os miúdos que estavam a sair e disse-me “se mandasse traria um camião de batata-doce para aquela escola”.
Perante a minha estranheza, explicou que aqueles miúdos haveriam de comer até se rir, “só aprende quem se ri”, rematou o Velho Bata.
Pois é Velho, miúdos com fome não prendem e vão continuar pobres.

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