De acordo com dados ainda não
definitivos divulgados pelo ME e contrariamente ao que tinha acontecido em 2017,
voltou a baixar apesar de pouco significativamente o número de alunos que na
inscrição para os exames nacionais do secundário deste ano manifestaram a intenção de
prosseguir estudos no superior, de 56% para 55%. São também em menor número os
alunos já inscritos, de 161 306 para 159650.
A abordagem às razões para este
cenário de preocupante desinvestimento na formação superior, politécnica ou
universitária, remete quase sempre para as dificuldades económicas das
famílias.
Dados disponíveis têm sustentado
este entendimento mas, do meu ponto de vista, há ainda que considerar os
eventuais efeitos de um discurso recorrentemente difundido de que, dada a
enorme taxa de desemprego de jovens com qualificação superior, o investimento
numa qualificação superior não compensa pois não existe mercado de trabalho,
alguns empregos que surgem são precários e mal pagos e muita gente qualificada
tem sido empurrada para fora por falta de futuro cá.
Por partes. Na verdade, Portugal,
conforme alguns estudos demonstram, tem comparativamente a muitos outros países
da Europa, um dos mais altos custos para as famílias a situação de um filho a
estudar no ensino superior, ou seja, as famílias portuguesas fazem um esforço
bem maior, em termos de orçamento familiar, para que os seus filhos acedam a
formação superior. Se considerarmos a frequência de ensino superior privado o
esforço é ainda maior. Tem vindo a ser regularmente noticiada a desistência da
frequência dos cursos por muitos alunos que, por si, ou os respectivos
agregados familiares não suportam os encargos com o estudo.
Estas dificuldades são, do meu
ponto de vista, considerados frequentemente de forma ligeira ou mesmo
desvalorizadas. Tal entendimento parece assentar na ideia de que a formação de
nível superior é um luxo, um bem supérfluo pelo que ... quem não tem dinheiro
não tem vícios.
Neste contexto, o abaixamento na
intenção de prosseguir estudos superiores pode estar associado às dificuldades
enormes que muitas famílias atravessam e o desemprego mais elevado entre os
jovens, que poderia constituir uma pressão para continuar os estudos a que
acresce a redução significativa das bolsas e apoios, tornam ainda mais difícil
a realização de percursos escolares que promovam mobilidade social e que se
traduz, por exemplo, no aumento das desistências ou mesmo na intenção e
disponibilidade para estudar.
Relativamente aos discursos sobre
“estudar não compensa”, o futuro é o desemprego, umas notas.
Como muitas vezes aqui tenho
afirmado Portugal é o país da OCDE em que estudar mais compensa ao nível do
estatuto salarial, segundo o Relatório da OCDE, "Education at a Glance
2012", a diferença salarial de jovens com licenciatura para jovens com
formação a nível do secundário é de 69 %.
Não esqueço o altíssimo e
inaceitável nível de desemprego entre os jovens, em particular entre os jovens
com qualificação superior, mas esta questão decorre do baixo nível de
desenvolvimento do nosso mercado de trabalho, de circunstâncias conjunturais e
de erradas políticas de emprego e não da sua qualificação.
Neste cenário e como sempre
afirmo, o discurso muitas vezes produzido no sentido de que "não adianta
estudar" não colhe e não tem sustentação sendo, um autêntico tiro no pé de
uma sociedade pouco qualificada como a nossa que, efectivamente e
contrariamente à tão afirmada quanto errada ideia de que somos um país de
doutores, continua, em termos europeus, com uma das mais baixas taxas de
qualificação superior em todas as faixas etárias incluindo as mais jovens.
Aliás, estamos longe de poder vir a cumprir a meta a que nos comprometemos com
a UE para 2020, 40% de pessoas licenciadas entre os 30 e os 34 anos.
Conseguir níveis de qualificação
compensa sempre e é imprescindível. Estudar e conseguir qualificação de nível
superior compensa ainda mais.
O que acontece verdadeiramente é
termos desenvolvimento a menos, não é qualificação a mais, temos um mercado de
trabalho que a cegueira da austeridade e do empobrecimento proletarizou e precarizou e que não absorve a mão-de-obra qualificada. Não podemos passar a mensagem de
que a qualificação não é uma mais-valia.
É um tiro no pé.
Desconheço os dados sobre as razões para não querer prosseguir estudos de formação superior, politécnica ou universitária. Haverá razões económicas diretas, concerteza. Além das propinas, aquisições de livros, material, as despesas de deslocação são gravosas para muitas famílias. Mas desconfio que também poderá haver razões que se prendem com a natureza da oferta. Aposto que muitos jovens olham para os cursos universitários e não se imaginam a prolongar estudos por mais 3, 4 ou 5 anos, a "afundar-se" em teoria e a adiar a aquisição de competências práticas para a vida profissional. Tudo dependerá da área onde queiram trabalhar, mas não tenho dúvidas que hoje em dia, há uma panóplia de cursos profissionalizantes que não "precisam" da academia e são bem mais atrativos. Os CET vinham dar uma ajuda, mas alguém não resistiu a transformá-los em cursos para-académicos...Mas, afinal é só a minha opinião...Bem haja, profº José Morgado
ResponderEliminarÉ verdade Sofia, importa considerar toda a oferta e tentar que TODOS os jovens terminem o seu percurso com algum tipo de qualificação. No entanto e no que respeita à qulificação no superior estamos abaixo da média europeia e aquém dos objectivos para 2020.
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