O ME desencadeou em 2017 uma
iniciativa no sentido de ouvir alunos do básico
e do secundário sobre matérias como: “O que aprendemos? Como aprendemos
melhor? O que distingue os professores que constituem referências para nós? O
que retemos do que aprendemos? Como utilizamos o que aprendemos? O que (não)
mudaríamos na escola?”
Foi agora divulgada alguma
informação sobre o que os alunos participantes, 2643 de 50 escolas, afirmaram e
que integra o trabalho “Prós da Educação Inspiram”.
Não tive acesso mas, segundo o
Público, os alunos referem o interesse em aulas mais práticas e interactivas,
mais curtas e com intervalos mais longos.
Sublinham também a importância do
trabalho dos docentes não apenas na tarefa de ensinar e motivar mas também na
necessidade de criar uma boa relação com as turmas.
Não tenho um entendimento
idealizado ou romântico do “diálogo” e do “ouvir os alunos” mas creio que
importará, de facto, ouvir os alunos, todos os alunos, com real interesse no
seu olhar e ideias sobre a sua vida escolar. Achei, portanto, uma iniciativa
positiva.
A propósito de ouvir os alunos,
recordo que há algum tempo participei num conjunto de conversas com alunos do
2º e 3º ciclo em que se discutia o que era essa coisa de ser um bom professor.
A maioria dos alunos envolvia-se
activamente e a continuidade das referências levou à identificação de uma
resposta que se poderia sintetizar na ideia de que "bom professor é o que
fala com a gente e explica bem".
Este entendimento lembrou-me,
cito-o aqui frequentemente, o Mestre João dos Santos quando afirmava que alguém
tinha sido seu professor "porque foi seu amigo".
De facto, o sucesso dos processos
de ensinar e aprender envolve dois factores fundamentais, a qualidade do
ensinar e a relação entre quem ensina e quem aprende. Do meu ponto de vista, a
grande maioria dos professores estará equipada sobre o ensinar. A grande
questão é que a nossa escola, de uma forma geral, não facilita a relação. Esta
dificuldade decorre, fundamentalmente, da organização dos tempos lectivos, da natureza
e extensão dos conteúdos curriculares das diferentes e muitas disciplinas, da
crescente pressão para resultados tangíveis, o número crescente de alunos por
turmas e do número de turmas leccionado por muitos professores, de um ensino
demasiado assente no manual, etc. para além, naturalmente, das concepções de
alguns professores.
Os professores, muitos
professores, sentem-se "escravos" do programa que tem de ser dado e
do pouco tempo disponível para construção da relação que na verdade se torna
muito difícil.
Muitas vezes digo que os
professores "falam" para o programa, para o explicar, e os alunos
"falam" para o programa para o aprender. Não falam entre si sendo
que, além disso, existe um grupo significativo de alunos que, por diversas razões
como dificuldades ou desmotivação ou associadas a variáveis de contexto, não
conseguem "falar" com o programa. Para estes, os professores vêem-se
obrigados a falar, sobretudo para controlar os seus (maus) comportamentos.
Também por estas razões, continuo
a entender como necessária uma mudança mais significativa na organização dos
tempos da escola e dos conteúdos curriculares que tornassem mais fácil podermos
ouvir os alunos dizer, "a gente tem bons professores porque explicam bem e
falam com a gente".
Esta ideia não tem nada de
romântico nem de utópico, assenta em algo de muito simples, a educação
constrói-se com a relação que se alimenta com a comunicação.
Concordo plenamente!
ResponderEliminarElisabeth