AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

MIÚDOS COM SONO. De novo.

O Público faz referência a um estudo da Universidade Estadual do Iowa mostrando com a presença no quarto das crianças de dispositivos como computadores, tv, smartphones ou tablets têm potenciais impactos no desempenho escolar, maior risco de obesidade e dependência das novas tecnologias.
Os dados não sugerem nada de novo mas sublinham a necessidade de dar atenção a esta questão que frequente é abordada em muitos encontros com pais. Daí a insistência retomando algumas notas.
Também em Portugal, um estudo de 2016 da Universidade do Minho indiciava que cerca de 72% de mais de quinhentas crianças e adolescentes inquiridos, dos 9 aos 17, dormem menos do que seria recomendável para as suas idades. Aliás, estudos liderados pela Professora Teresa Paiva mostram isso mesmo.
Para além das questões ligadas aos estilos de vida e às rotinas, uma das causas apontadas é a presença de aparelhos como computadores, tablets ou smartphones no quarto.
Um estudo recente realizado nos EUA acompanhando durante seis anos 11 000 crianças encontrou fortes indícios de relação entre perturbações ou pouca qualidade do sono e o desenvolvimento de problemas de natureza diferenciada no comportamento e funcionamento das crianças.
O que me inquieta é que esta matéria, os padrões e hábitos de sono de crianças e adolescentes, é muito importante e reconhecida mas nem sempre parece devidamente considerada, seja por desatenção, negligência ou impotência, é muito mais fácil ter um pc ou um smartphone no quarto dos filhos que retirá-los depois de já fazerem parte do “mobiliário”.
A falta de qualidade do sono e do tempo necessário acaba, naturalmente, por comprometer a qualidade de vida das crianças e adolescentes, incluindo o rendimento e comportamento escolar mas não só. Todos nos cruzamos frequentemente nos Centros Comerciais, por exemplo, com crianças, mais pequenas ou maiores, a horas a que deveriam estar na cama e que, penosa mas excitadamente, deambulam atreladas aos pais.
Alguma evidência sugere que parte das alterações verificadas nos padrões e hábito relativos ao sono remete para questões ligadas a stresse familiar e sublinha o aumento das queixas relativas a sonolência e alterações comportamentais durante o dia.
As situações de stresse familiar serão importantes mas parece-me necessário não esquecer alguns aspectos relacionados com os estilos de vida, com as rotinas ou com a utilização nem sempre regulada das novas tecnologias. Durante o dia, as crianças e adolescentes passam boa parte do seu tempo saltitando de actividade para actividade, passam tempos infindos na escola e, muitos deles, são pressionados para resultados de excelência.
Com a presença dos diferentes dispositivos no quarto durante o período que seria dedicado ao sono e sem regulação familiar, muitas crianças e adolescentes continuam diante de um ecrã. Como é óbvio, este comportamento não pode deixar de implicar consequências nos comportamentos durante o dia, sonolência e distracção, ansiedade e, naturalmente, o risco de falta de rendimento escolar num quadro geral de pior qualidade de vida.
Creio que, com alguma frequência, alguns comportamentos e dificuldades escolares dos miúdos, sobretudo nos mais novos que por vezes, sublinho por vezes, são de uma forma aligeirada remetidos para problemas como hiperactividade ou défice de atenção, podem estar associados aos seus estilos de vida ou aos modelos educativos, universo onde se incluem os hábitos e padrões de sono como, aliás, alguns estudos e a experiência de muitos profissionais parecem sugerir.
Considerando as implicações sérias na vida diária importa que se reflicta sobre a atenção e ajuda destinada aos pais para estas questões e que apesar a utilização imprescindível e útil destes dispositivos seja regulada e protectora da qualidade de vida das crianças e adolescentes
A experiência mostra-me que muitos pais desejam e mostram necessidade de alguma ajuda ou orientação nestas matérias.

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