AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

QUANDO A IMPRENSA É NOTÍCIA

De vez em quando a imprensa é ela própria o objecto da notícia. Desta vez noticia-se o risco de encerramento de alguns títulos do Grupo Impresa, designadamente da revista Visão, uma companhia de sempre e na qual tenho colaborado com regularidade. A confirmar-se, o desaparecimento de um órgão de imprensa é sempre um embaraço cívico, em particular com as características da Visão.
A imprensa de qualidade é um dos alicerces da democracia.
É recorrente, não só em Portugal, a discussão da questão da sobrevivência da imprensa e, naturalmente, da sua independência face aos poderes, político e económico, designadamente. Sabemos das tentativas recorrentes de controlo político da imprensa, como também sabemos da eventual agenda implícita dos investimentos dos grupos e poderes económicos na imprensa. São vários os exemplos recentes. Sabemos que a sustentabilidade económica da imprensa é condição necessária mas não suficiente para a sua independência e por isso os tempos são difíceis.
Por outro lado, a evolução do próprio mundo da imprensa, a evolução exponencial do universo do on-line, a conjuntura económica inibidora de gastos das famílias em bens “não essenciais” e, caso particular de Portugal, o baixo nível de hábitos de leitura e consumo da imprensa escrita, produzem dificuldades de sobrevivência de títulos de qualidade, chamados de referência, abrindo caminho à chamada imprensa tablóide que, apesar das oscilações, se mantém relativamente saudável, o que se entende. São também tablóides os tempos.
Como leitor de jornais desde muito novo, é sempre com inquietação e tristeza que penso nestas questões e vou assistindo ao abaixamento das tiragens e, finalmente, ao desaparecimento.
Numa entrevista ao Público há já algum tempo, um especialista, Tom Rosenstiel, afirmava que se o jornalismo, (os jornais), deixar de ser rentável e, como tal, correr o risco de desaparecimento, as democracias poderão sofrer um "cataclismo cívico". Creio que a cidadania de qualidade exige uma imprensa não só voltada para o imediatismo da espuma dos dias e acredito que apesar das mudanças em tecnologia e das incidências do mercado a que os jornalistas e os jornais deverão adaptar-se, os jornais em papel são como os dias, nunca acabam. Se forem jornais, bons jornais, independentemente do suporte têm de resistir.
A imprescindível sobrevivência dos jornais, dos bons jornais, para além da qualidade e competência do seu próprio trabalho, garante-se na escola, nos hábitos de leitura, na educação. Na cidadania.
Aguentem-se Jornais, aguentem-se Visão e Jornal de Letras, fazem falta. 

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