AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

OS ATRAVESSADIÇOS

Ao fim da tarde, depois da lida de sábado e como é hábito lá no monte ficámos algum tempo nas lérias, eu e o Velho Marrafa.
A conversa encaminhou-se para as dificuldades de muitas pessoas e o fardo pesado que carregam. O Velho Marrafa dizia que as pessoas do Alentejo, sobretudo os mais velhos, estão habituadas a fardos pesados, a vida sempre lhes foi dura. Para exemplificar, falou do longo caminho que foi percorrido desde que começou a guardar porcos aos nove anos, ao trabalho de sol a sol, muitas vezes até sete dias na semana, a passagem por ter e ganhar os feriados, passar a trabalhar só as oito horas e a riqueza de ter férias pagas.
No fim da sua viagem o Mestre Zé conclui com a tranquilidade que nele parece um ser e não um estar que culpa de muitos problemas, de hoje e de sempre, é dos atravessadiços. Provavelmente, tal como eu, ficarão intrigados com a referência.
Pois o Velho Marrafa esclareceu que os atravessadiços são aquelas pessoas que sendo assim "atravessadas" só pensam nelas, nunca pensam nos outros. Fazem tudo para sair beneficiadas mesmo que isso possa prejudicar os outros. Depois, à medida que têm mais coisas e mandam mais, ainda mais querem ter e mandar e como são atravessadiços, causam muitos problemas aos outros sem se preocuparem com isso. O Velho Marrafa rematava sem a menor dúvida, "Veja-me lá Senhor Zé se os que mandam, os que são grandes, se importam alguma coisa com os pequenos? Nada, mesmo nada".
Não é assim uma teoria muito sofisticada mas o Velho Marrafa é capaz de ter alguma razão. Anda por aí muito atravessadiço em lugar de mando.
São também assim os dias do Alentejo.

Sem comentários:

Enviar um comentário