AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 21 de julho de 2017

O PREÇO ELEVADO DA ESCOLARIDADE OBRIGATÓRIA, GRATUITA E UNIVERSAL

Como é habitual a Comissão do Livro Escolar da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros divulgou os valores envolvidos na aquisição dos manuais escolares. Para o próximo ano lectivo o valor médio é de 112.5 € e os preços sobem de acordo com os anos de escolaridade tendo o 11º ano o valor mais elevado, cerca de 200€.
No entanto e como é sabido, para além de outros materiais imprescindíveis, importa ainda considerar o habitual conjunto de cadernos de actividades, fichas e CDs que acompanham os manuais e que se reflectem significativamente nos custos globais.
A este propósito recupero uma história que já aqui contei e que se passou na papelaria do meu bairro ouvindo o seguinte diálogo que tentei reproduzir o mais fielmente possível.
Bom dia, queria encomendar os livros para a escola.
Sim senhora, é desta escola aqui?
Sim.
De que ano?
Do 8º.
Vou tomar nota. Quer os livros todos?
Sim, parece que são precisos todos, é muito dinheiro. Mas não quero os CDs.
Não quer os CDs?
Não, não servem para nada, só para gastar dinheiro. O ano passado comprei os CDs e a minha filha disse que não foram usados. Este ano não os compro.”
Como é evidente, esta situação pode ser ameaçadora do trajecto educativo e escolar de alguns alunos aos quais nem sempre chegam e são suficientes os apoios da Acção Social Escolar.
Como muitas vezes tenho escrito, por várias razões o nosso ensino parece excessivamente “manualizado” e se acrescentarmos a diversidade os alunos e em algumas circunstâncias o número de alunos por turma e natureza e extensão dos conteúdos curriculares a situação torna-se mais complexa.
Parece-me sempre importante recordar que no quadro constitucional vigente, lê-se no Art.º 74º (Ensino), “Na realização da política de ensino incumbe ao Estado: a) Assegurar o ensino básico universal, obrigatório e gratuito;
Na verdade, o ensino obrigatório nunca foi gratuito nem universal, vejam-se as taxas de abandono, e os custos incomportáveis para muitas famílias dos manuais e materiais escolares num cenário em que, é notícia recorrente, a acção social escolar é insuficiente e tem vindo a promover sucessivos ajustamentos nos valores e critérios de apoio disponibilizados. No universo particular das famílias com crianças com necessidades especiais os custos da escolaridade obrigatória e gratuita são ainda mais elevados, bem mais elevados.
Sem retomar considerações de natureza mais didáctico-pedagógica que já tenho abordado creio que a redução da dependência dos manuais passaria, entre outros aspectos, por uma reorganização curricular, diminuindo a extensão de alguns conteúdos, a redução do número de alunos por turma ao abrigo de uma verdadeira autonomia das escolas, o que permitiria a alunos e professores um trabalho de pesquisa e construção de conhecimentos com base noutras fontes incrementando, por exemplo, a acessibilidade a conteúdos e informação diversificada que as novas tecnologias oferecem.
É importante caminharmos no sentido de atenuar a fórmula predominante, o professor ensina com base no manual o que o aluno aprende através do manual que o pai acha muito importante porque tem tudo o que professor ensina.
A verdade é que a desigualdade, a dificuldade de promover sucesso educativo e escolar, mobilidade social e qualificação envolvem múltiplas variáveis.
Esta é uma delas.

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