Ainda a propósito do Dia Mundial
da criança, por assim dizer.
Segundo informação do Ministério
do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social em cerca de um ano foram
devolvidas às instituições ou famílias de acolhimento 43 crianças que tinham
iniciado o processo de adopção. Destas crianças, duas têm problemas graves de
saúde, seis revelam “problemas ligeiros” e as restantes sem problemas desta natureza.
Das 43 crianças, 20 tinham até dois anos de idade.
Já aqui tenho abordado esta
questão. Na verdade, os casos de “devolução" de crianças em processo de
adopção são mais numerosos do que se imagina e por vezes em processos
incompreensíveis, sobretudo se escrutinadas pelo “superior interesse da
criança”.
Nos últimos anos registaram-se
mais de 100 casos de crianças que foram devolvidas, isto é, viram o seu processo
de adopção interrompido. Muitas destas situações deveram-se ao facto de as
crianças "não corresponderem às expectativas" das famílias
adoptantes.
Vejamos com mais atenção. Uma
criança, por qualquer razão não tem uma família, está numa instituição, envolve-se
num processo de adopção, entra numa família que entende passar a ser a SUA
família, deve sentir-se num caminho bonito. Passado algum tempo é devolvida,
provavelmente, sem perceber porquê e vive uma, certamente mais uma, experiência
devastadora com efeitos que não podem deixar de ser significativos.
Como é evidente, admito que em
circunstâncias excepcionais o processo possa ser interrompido mas, insisto, só
mesmo numa situação limite depois de esgotados os dispositivos de apoio às
famílias adoptantes.
A lei permite, não sei se terá
sido alterada, que durante seis meses a criança possa ser devolvida, trata-se
de um período de adaptação, uma espécie de contrato à experiência. O Juiz
Armando Leandro presidente da Comissão Nacional de Protecção de Crianças e
Jovens em Risco, reconhecia há algum tempo que a devolução não tem de ser
baseada em "critérios necessariamente válidos". Também há algum tempo
num trabalho sobre o mesmo tema, o DN citava um caso em que uma criança foi
devolvida e trocada por outra porque não se adaptava ao cão da família. Outros
casos de devolução envolvem dificuldades de adaptação a outros elementos da
família ou a questões económicas.
Como é de prever, os serviços
procuram de diferentes formas na fase pré-adopção prevenir situações deste
tipo, embora eles continuem a ocorrer.
Voltando ao tão apregoado
"superior interesse a criança", é difícil imaginar o que se passará
na cabeça de um miúdo que passa anos a construir uma ideia de família, a certa
altura entra numa família a que chama sua e de repente dizem-lhe que volta a
estar só, na instituição, porque ... não se dá bem com o cão ou não corresponde
às expectativas. Que sentirá a criança?
Porquê? Não presta? Não a querem?
...
Mas as crianças, Senhores?
Não sei como funciona, mas família que devolve uma criança ainda fica com a possibilidade de avançar com outra adopção ?
ResponderEliminarA consciência das pessoas não carrega para o resto da vida com esse acto desprezível ?
As crianças adoptadas têm problemas de saúde ou de outra ordem ?
Se fossem filhos biológicos também não poderiam ter "defeito" ?! Neste caso deitavam-nas fora ?!
Não têm consciência do mal que fazem para o resto da vida das crianças ?
Para mim pior do que não adoptar, quando se quer e não se pode ter filhos biológicos é devolver!!!
VIVA!
Em todo o caso é uma situação complexa pois é necessário acautelar casos extremos em que as coisas não corram bem e criança vai ficar mal. A questão como evitar situações destaso que na prática é quase impossível e sobra sempre para os mais vulneráveis, os putos.
ResponderEliminarO que me leva concluir que o processo é mal conduzido a montante. O escrutínio feito ás famílias adoptantes sobre as condições para adoptar determinada criança devem estar feridas de falta de prudência.
ResponderEliminarO problema é que toda a gente quer ter filhos com saúde, altos, louros , olhos azuis e muito inteligentes.
E os outros, deuses inexistentes ??!! VÃO PARA A RECICLAGEM ??
VIVA!
Na selva, no reino dos irracionais, os mais fracos são os primeiros a serem acolhidos e protegidos.
ResponderEliminarViva a humanidade!!!
VIVA!
Concordo consigo inteiramente Prof.!
ResponderEliminarE as crianças???
O sistema está feito para se retroalimentar. Declaradamente.
Quando nunca se viveu a situação é fácil criticar e apontar o dedo ás famílias adotantes. Percebo e aceito que haja casos de "devolução" que deveriam ser trabalhados de outra forma. Mas uma criança trás, muitas vezes, uma história de vida problemática, com trauma, entre muitos outros casos, que nem os técnico têm conhecimento! Esses problemas podem ser impeditivos da própria criança estabelecer laços afetivos com as famílias. Tenho uma criança comigo há 2 anos, e quem de perto conhece a minha história diz que não conseguiria estar no meu lugar. Todos me dizem que deveria "devolver", até mesmo aqueles que apoiaram a minha decisão. Porque eu também sou um ser humano, com sentimentos, também preciso de equilíbrio e saúde mental, porque também a minha vida mudou muito, e a vida da minha família. Não há um mundo perfeito e acreditem não é só abrir a porta de casa.
ResponderEliminarCompreendo muito bem a situação e por isso escrevi "Como é evidente, admito que em circunstâncias excepcionais o processo possa ser interrompido mas, insisto, só mesmo numa situação limite depois de esgotados os dispositivos de apoio às famílias adoptantes.". O meu texto remete fundamentalmente para situações bem diferentes de que dei alguns exemplos conhecidos. Também escrevi, "Como é de prever, os serviços procuram na fase pré-adopção prevenir situações deste tipo, embora eles continuem a ocorrer.", mas sabemos que é impossível prever tudo. É uma situação complexa. Obrigado pelo comentário e que tudo corra o melhor possível para todos.
ResponderEliminar