AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 1 de abril de 2017

SÓ APRENDE QUEM SE RI

O ME estuda a possibilidade de disponibilizar a custo zero o pequeno almoço na escola a alunos que integrem o escalão A da Acção Social Escolar e a 50% os alunos integrados no escalão B. Está ainda em estudo a alteração dos processos de apoio para manuais e e materiais escolares no sentido de minimizar os frequentes atrasos com a implicações negativas para alunos e famílias.
Nunca é demais chamar a atenção para a situação de extrema dificuldade que muitas famílias atravessam para assegurar condições básicas de qualidade de vida como a alimentação.
Sabe-se também que as crianças e idosos constituem grupos altamente vulneráveis a situações de privação.
É também conhecido que muitas crianças e adolescentes encontram na escola a única refeição consistente e equilibrada a que acedem levando a que em muitas autarquias as cantinas escolares funcionem também no período de férias ou de interrupção de aulas.
O Governo anterior procurou responder a este tipo de situações através do PERA - Programa Escolar de Reforço Alimentar que não chegava a todas as escolas e assentava em parceiras com entidades privadas.
O impacto das circunstâncias de vida no bem-estar das crianças e em aspectos mais particulares no rendimento escolar e comportamento é por demais conhecido e essas circunstâncias constituem, aliás, um dos mais potentes preditores de insucesso e abandono quando são particularmente negativas, como é o caso de carências significativas ao nível das necessidades básicas.
Um Relatório de 2013, "Food for Thought", da organização Save the Children, afirmava que 25% das crianças terão o seu desempenho escolar em risco devido à malnutrição com as óbvias e pesadas consequências em termos de qualificação e qualidade de vida de que a educação é uma ferramenta essencial.
Em qualquer parte do mundo, miúdos com fome, com carências, não aprendem e vão continuar pobres. Manteremos as estatísticas internacionais referentes a assimetrias e incapacidade de proporcionar mobilidade social através da educação. Não estranhamos. Dói mas é “normal”, é o destino.
Quando penso nestas matérias sempre me lembro da história que muitas vezes conto e foi umas das maiores lições que já recebi, acontecida há uns anos em Inhambane, Moçambique. Ao passar por uma escola para gaiatos pequenos o Velho Bata, um homem velho e sem cursos, meu anjo da guarda durante a estadia por lá, disse-me que se mandasse traria um camião de batata-doce para aquela escola. Perante a minha estranheza, explicou que aqueles miúdos teriam de comer até se rir, “só aprende quem se ri”, rematou o Velho Bata.
Pois é Velho, miúdos com fome não prendem e vão continuar pobres.

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