AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 27 de abril de 2017

AS PALAVRAS FEIAS

Acho sempre muito interessante a ingenuidade voluntariosa com que muitos pais e outros adultos tentam instruir os miúdos para que não digam asneiras ou “palavras feias” como também lhes chamam.
Como sabemos todos, passámos por esta estrada, não adianta, os miúdos aprendem as “palavras feias”, felizmente diria. Já tenho causado alguns embaraços quando digo coisas como achar que aquelas “palavras feias” não são palavras feias e também quando digo que, por vezes, é “bom” dizer aquelas “palavras feias”, fazem bem ao nosso discurso e à nossa saúde mental. Trata-se só de ajudar os miúdos perceber  onde e com quem se podem dizer e os miúdos aprendem isso muito bem se a forma como o fizermos for ajustada e firme.
Também digo que muitas vezes, não estando em circunstância de dizer uma “palavra feia”, penso cada uma, o que me permite, garanto-vos, ficar melhor.
Mas na verdade existem palavras feias, agora sem aspas, algumas mesmo muito feias. Maltratar é uma palavra muito feia. Abuso também é uma palavra feia. Desemprego é igualmente uma palavra muito feia. Também acho que sofrimento é uma palavra feia, tal como pobreza ou exclusão, são palavras terrivelmente feias. Outra palavra que me parece muito feia é humilhação. Também acho ostentação uma palavra um bocadinho feia. E há muitas mais, podem descobrir.
Mas tal como com as “palavras feias” com aspas, também acho que estas palavras feias, sem aspas, devem ser usadas, muito usadas e é importante que os miúdos ao crescer vão percebendo também estas palavras feias se devem dizer. Pode ser que de tanto as usarmos elas se gastem e desapareçam.
Não me digam que não posso sonhar senão digo uma “palavra feia”.

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