As notícias sobre agressões a
professores, designadamente cometidas por encarregados de educação, vão
chegando com alguma frequência à comunicação social. Na sexta-feira em Setúbal ocorreu mais um episódio envolvendo um professor do 1º ciclo.
De novo algumas notas que apesar
de repetidas serão necessárias. Esta questão, embora sempre objecto de rápidos
discursos de natureza populista e securitária, parece-me complexa e de análise
pouco compatível com um espaço desta natureza. No entanto, uma breve reflexão
em torno de três eixos: a imagem social dos professores, a mudança na percepção
social dos traços de autoridade e o sentimento de impunidade, que me parecem
fortemente ligados a este fenómeno.
Já aqui tenho referido que os
ataques, intencionais ou não, à imagem dos professores, incluindo parte do
discurso de gente dentro do universo da educação que tem, evidentemente, responsabilidades
acrescidas e também o discurso que muitos opinadores profissionais, mais ou
menos ignorantes, produzem sobre os professores e a escola, contribuíram para
alterações significativas da percepção social de autoridade dos professores,
fragilizando-a seriamente aos olhos da comunidade educativa, sobretudo, alunos
e pais.
Esta fragilização tem, do meu
ponto de vista, graves e óbvias consequências, na relação dos professores com
alunos e pais.
Em segundo lugar, tem vindo a
mudar significativamente a percepção social do que poderemos chamar de traços
de autoridade. Os professores, entre outras profissões, polícias ou médicos,
por exemplo, eram percebidos, só pela sua condição de professores, como fontes
de autoridade. Tal processo alterou-se, o facto de se ser professor, já não
confere “autoridade” que iniba a utilização de comportamentos de desrespeito ou
de agressão. O mesmo se passa, como referi, com outras profissões em que
também, por razões deste tipo, aumentam as agressões a profissionais.
Finalmente, importa considerar,
creio, o sentimento instalado em Portugal de que não acontece nada, faça-se o
que se fizer. Este sentimento que atravessa toda a nossa sociedade e camadas
sociais é devastador do ponto de vista de regulação dos comportamentos, ou
seja, podemos fazer qualquer coisa porque não acontece nada, a “grandes” e a
“pequenos”, mas sobretudo a grandes, o que aumenta a percepção de impunidade
dos “pequenos”.
Considerando este quadro, creio
que, independente de dispositivos de formação e apoio, com impacto quer
preventivo quer na actuação em caso de conflito, obviamente úteis, o caminho
essencial é a revalorização da função docente tarefa que exige o envolvimento
de toda a comunidade e a retirada da educação da agenda da partidocracia para a
recolocar como prioridade na agenda política.
Definitivamente, a valorização
social e profissional dos professores, em diferentes dimensões é uma ferramenta
imprescindível a um sistema educativo com mais qualidade. Aliás, uma das
características dos sistemas educativos melhor considerados é, justamente, a
valorização dos professores.
É ainda fundamental que se
agilizem, ganhem eficácia e sejam divulgados os processos de punição e
responsabilização séria dos casos verificados, o que contribuirá para combater,
justamente, a ideia de impunidade.
Quantos mais casos serão precisos para chamar à atenção do ME?!
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