AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

SIM, ELES, AS CRIANÇAS E ADOLESCENTES, PERCEBEM

De volta da lida e em busca de uns textos colocados naquele arquivo onde guardamos o que iremos ler quando tivermos tempo, se tivermos, reencontrei a referência a um estudo realizado pelo Comité Português para a UNICEF sobre a percepção que crianças e adolescentes têm dos tempos e das dificuldades que que viviam em 2013 e que, apesar de melhorias importantes, não serão tão diferentes das que actualmente enfrentamos.
O trabalho mostrava como crianças e adolescentes têm uma percepção muito clara das dificuldades das famílias, no impacto dessas dificuldades em variadas dimensões, incluindo nas relações pessoais, a vida escolar e disponibilidade dos pais e, muito importante, da ameaça para o seu futuro, por exemplo na possibilidade continuar os estudos.
Estes dados surpreendem e vale a pena recuperar.
Os adolescentes e as crianças, cuja imagem e competências são às vezes desconsideradas, outras vezes idealizadas, são inteligentes e atentos, mais do algumas vezes damos conta. Quando lhes perguntamos sobre o que está à sua volta, de uma forma geral, revelam que percebem, sentem, as circunstâncias nas quais estão mergulhados e falam com lucidez sobre isso. Nesta afirmação estou a incluir, como não pode deixar de ser, crianças e adolescentes com necessidades especiais que, devido a essa condição, ainda menos são ouvidas sobre o que lhes diz respeito.
Recordo um outro trabalho realizado nos EUA em que crianças e adolescentes revelaram como sentem as alterações nas relações com os pais devido ao tempo que estas passam com tablets e smartphones.
É por questões desta natureza que tantas vezes insisto na necessidade de falarmos, interpelarmos os mais novos. Eles têm certamente algo para nos dizer e que, talvez, possa influenciar decisões que acabam por os envolver mas para as quais muitas vezes não são consideradas as suas opiniões.
Fala-se com frequência do barulho e gritaria que os mais novos produzem.
Quero afirmar que não tenho nenhuma visão idealizada ou ingénua de crianças e adolescentes mas algumas vezes, refiro, com uma pontinha de provocação, que talvez só quando eles gritam é que os ouvimos.
Dito de outra maneira, em muitas circunstâncias eles gritam porque não os ouvimos, mostramos alguma surdez, total ou selectiva, só ouvimos o que queremos.
A verdade, insisto, é que crianças e adolescentes percebem, pensam e se tiverem oportunidade participam nas decisões que os levam ao futuro. Da forma possível para cada idade, evidentemente.

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