AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

PROIBIDO A CRIANÇAS, DEPOIS, PROIBIDO A ...

Na Visão encontra-se um trabalho interessante sobe a proliferação da proibição da frequência por parte de crianças de espaços de natureza variada como restaurantes ou equipamentos de hotelaria. Na construção do trabalho a autora, Teresa Campos, solicitou-me um pequeno comentário a esta matéria. Algumas notas em complemento.
De facto, com cada vez maior regularidade surgem notícias sobre espaços de diferente natureza que em nome do sossego e da tranquilidade proíbem ou, para ser mais simpático, condicionam o acesso a crianças.
Começa por se praticar de forma discreta o condicionamento, corrige-se se despertar algum alarido até melhor oportunidade, volata a insistir-se e alargam-se de mansinho as práticas de “limpeza etária”.
Há uns atrás, creio que em 2011, a Ryannair anunciou a intenção de voos proibidos a crianças que creio não ter avançado.
No entanto existem unidades hoteleiras ou de restauração que têm essa interessante atitude de proibir a entrada a crianças.
Recordo que há uns tempos o conhecido tudólogo Miguel Sousa Tavares também sustentou que as crianças nos restaurantes podiam ser tão incomodativas como o fumo dos seus cigarros.
Estas posições parecem-me interessantes. É de notar que logo surgem apoiantes e existe certamente um nicho de mercado, já identificado evidentemente, quer viver longe das crianças estando, por isso, disposto até a pagar um pouco mais só para não correr o risco de levar com uns putos mal-educados a estragar a viagem, a estadia no hotel ou spa, ou a refeição.
Talvez nas companhias aéreas se possa pensar na hipótese das crianças poderem viajar em condições especiais como os animais de companhia.
Com é evidente, todos temos histórias destas, não é uma experiência particularmente agradável ter como companhia de viagem ou de refeição miúdos que se comportam como ditadores, miúdos desregulados no comportamento e muitas vezes acompanhados dos respectivos papás que por incompetência ou negligência são incapazes de manter os miúdos tranquilos. Como é óbvio, temos o direito à tranquilidade.
Só que a questão é a natureza da educação que os miúdos têm e não a proibição da sua presença, os miúdos não são todos assim e, por outro lado, todos já fomos miúdos.
Existem muitos adultos que me incomodam e não vejo como proibir a presença de adultos a bordo dos aviões ou noutro qualquer espaço. Um dia destes pode pensar-se em proibir a presença de velhos, são chatos, sempre a contar histórias, as mesmas histórias. Também pode proibir-se a presença de gente obesa, torna o espaço mais apertado para as outras pessoas. Também se poderia proibir a presença de profissionais da política, incomodam demasiada gente. Não têm limite os exemplos que poderemos antecipar.
Este tipo de discurso mostra, também, de que são feitos alguns dos tempos que vivemos, putos desregulados, a crescer sem regras e gente intolerante, a criar guetos sucessivos e cada vez mais exclusivos.
Vão acabar sós.

PS - Já depois de ter escrito o texto encontro no JN uma notícia interessante, um restaurante de Pádua, Itália, descontou 13,05 euros na conta de grupo familiar devido ao comportamento exemplar das crianças durante a refeição. Tem mais piada que a proibição e pode ser um incentivo às famílias na sua acção educativa.

3 comentários:

  1. "Vão acabar sós."

    Às vezes temo que sejamos nós a acabar sós: aqueles que se indignam com tanto egoísmo social, atendendo às novas e sucessivas manifestações de intolerância que se vão conhecendo, com a aceitação de tantos!

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  2. Tenho que ser optimista, Ana. Em nome dos meus netos e de todos os outros miúdos. E acho que podemos. Creio que não a conheço e estamos a conversar sobre estas inquietações.

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  3. Vou tentar contagiar-me com o seu otimismo.
    E por acaso já tive a oportunidade de aplaudir as suas dissertações, quando veio partilhá-las à Biblioteca Municipal de Tomar, há cerca de um ano. :)

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