A imprensa de hoje refere um
estudo da Universidade de Pittsburgh publicado na "Child Development” em
que associa o que é designado por “parentalidade severa” a baixo rendimento
escolar e a problemas de comportamento dos filhos.
O estudo que considerou
diferentes variáveis envolveu 1482 alunos acompanhados durante nove anos,
seguidos ao longo de nove anos.
Por “parentalidade severa”
entendeu-se gritar, bater ou outro tipo de comportamento coercivo, além de
ameaças físicas e verbais como forma de punição.
Certamente por coincidência, esta
divulgação ocorre um dia depois de ser conhecido um trabalho do Alexandre
Henriques no ComRegras evidenciando a questão da indisciplina na escola e de
como muitos discursos remetem para a esfera familiar e a falta de autoridade
dos pais as razões para os problemas de indisciplina.
O estudo hoje divulgado merece
leitura atenta mas desde já algumas notas até porque pode gerar alguns
equívocos. Um rápido olhar pelas caixas de comentários mostra isso mesmo.
O desenho do estudo é
interessante mas os seus resultados globais não são inesperados.
Alguma investigação sobre o que
se designa por “estilos parentais”, o padrão de acção educativa dos pais, demonstra
resultados no mesmo sentido, um estilo excessivamente autoritário parece estar
associado a comportamentos desajustados dos filhos mas é importante sublinhar
que também demonstra que pais muito permissivos, mesmo quando procuram
estabelecer laços afectivos fortes, podem ter nos comportamentos dos filhos um
efeito da mesma natureza que a acção de pais muito autoritários ou, para usar a
expressão do estudo, que exercem uma "parentalidade severa”.
Neste cenário, o que se procura
criar na acção junto dos pais é um exercício de parentalidade com afecto,
evidentemente, mas com regras e limites que são um bem de primeira necessidade
para o desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes.
A questão do meu ponto de vista se
pode colocar é por que razão verificamos em tantas famílias fragilidades nesta
parentalidade “autoritativa” em que se combina de forma adequada o afecto e a
definição de regras e limites que conferem segurança e autonomia às crianças e
adolescentes.
É ainda importante referir que
esta fragilidade não afecta só famílias “problemáticas”, “disfuncionais” ou o
que se quiser referir. Muitas famílias com pais interessados, motivados sentem
dificuldade neste exercício. A experiência mostra-me que algumas das razões
podem ter a ver com os estilos de vida e o tempo disponível para os miúdos, a
alteração de valores em que estamos envolvidos e todo o universo de estímulos e
experiências em que as crianças e adultos estão envolvidos.
Não é, pois, estranho que algumas
crianças, logo desde novas, cheguem à escola “desreguladas” com baixa percepção
de regras e limites e de formas adequadas de relação social.
Aqui começa a discutir-se o papel
da escola e dos professores e, por vezes, um processo inconsequente de
atribuição de culpa. Ninguém é “culpado” e todos somos responsáveis. Pais saudáveis,
por que os há “doentes”, não gostam de ter filhos “maus”. Muitas vezes estão
perdidos e não sabem como fazer, por insegurança ou menor competência.
Os professores, por outro lado,
não podem gastar mais tempo a “tomar conta dos alunos” e a gerir episódios de
comportamento que a “ensinar”. Acontece ainda que as crianças e adolescentes
estão um tempo enorme na escola e, portanto, é na escola que também emergem as
fragilidades da acção educativa parental.
Neste cenário, torna-se
necessário que as comunidades encontrem formas de apoio ao exercício positivo e
adequado à parentalidade, com dispositivos e recursos suficientes competentes de
mediação com as famílias que podem estar sediados nas escolas.
São ainda necessárias respostas
aos problemas criados por famílias tóxicas, negligentes ou maltratantes que
fazem mal às crianças. Só que nestes casos, fazendo naturalmente parte da
solução, a escola não é a solução.
No que respeita ao espaço sala de aula e como ontem referia a propósito
da indisciplina, programas de natureza tutorial com tempo, formação e recursos
adequados ou a presença de dois docentes na sala de aula podem ser bons
contributos para criar melhores climas de funcionamento.
Cruzar estes dados com os dados relativos aos estilos dos professores seria muito interessante.
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