“Estas crianças não param”, é uma
das mais frequentes afirmações dirigidas ao comportamento das crianças. Na
verdade, apesar da frequência da sua utilização, parece-me desajustada pois, de
facto, as crianças não se mexem. Não reajam já, vou tentar explicar.
Na verdade e como se sublinha no
trabalho de hoje no Público as crianças portuguesas têm uma actividade física média
abaixo do recomendado pela OMS.
Recordo que segundo o Relatório “Health
at a Glance: Europe 2016” em Portugal mais de uma em cada quatro crianças tem
excesso de peso. Nas raparigas ultrapassa os 30% e nos rapazes temos 25%.
Acresce que no que respeita à
actividade física e considerando a recomendação da OMS de uma hora diária de
actividade física aos 11 anos só 16% das raparigas e 26% dos rapazes cumprem e
aos 15 anos temos 5% das raparigas e 18% dos rapazes.
Creio ainda de sublinhar que
estudos realizados em Portugal mostram que a obesidade infantil é já um
problema de saúde pública, implicando por exemplo o disparar de casos de
diabete tipo II em crianças.
Apesar de parecer uma birra ou
teimosia acho sempre importante sublinhar a importância que deve merecer a
questão dos hábitos alimentares e o combate ao sedentarismo, sobretudo nos mais
novos.
Ainda no que respeita à
actividade física, um trabalho da Universidade de Coimbra divulgado em 2013
sublinhava, mais uma vez, o impacto que o sedentarismo tem na saúde das
crianças. Este estudo envolveu 17424 crianças entre os 3 e os 11 anos e mostrou
a forte relação entre hábitos fortemente sedentários, ver televisão por
exemplo, e obesidade infantil e óbvias consequências na saúde e bem-estar dos
miúdos.
Um outro trabalho de 2012 da
Faculdade de Motricidade Humana envolvendo cerca de 3000 alunos que evidenciava
o efeito positivo da actividade física no rendimento escolar para além dos
benefícios óbvios na saúde.
De registar ainda que apesar da
simpatia do clima somos um dos países com menor prática de actividades de ar
livre.
De facto, o quotidiano de crianças
e adolescentes está excessivamente preenchido com actividades que solicitam
pouca actividade física, numa escola a tempo inteiro em que, muitas vezes,
passam horas sem fim em salas com actividades “fantásticas” sempre sentados ou,
quase, parados.
Em casa, o cenário é do mesmo
tipo só que em frente de um ecrã. Os estudos comprovam que o nível de
actividade física de crianças e adolescentes está francamente abaixo do
desejável para a sua faixa etária sendo, aliás, mais satisfatório em adultos e
também baixo para os idosos. Por outro lado, este é o equívoco a que me
referia, instalou-se a “ideia” de que as crianças e adolescentes não param, são
muito activas, até mesmo hiperactivas” pelo que os desejos de muitos pais e
professores é que estejam mais “calmas”, mais “sossegadas” e não tão “activas”,
às vezes até se medicam para que se aquietem.
Por isso e de uma vez por todas,
que crianças e adolescentes não parem, que as não envolvam e incentivem a
actividade sedentária tantas horas por dia e que ajudemos todos pais e comunidades
a construir alternativas que sejam atractivas para os tempos dos mais novos.
É uma questão de saúde, física e
mental, para crianças e adolescentes e, também, para os adultos que lidam com
eles.
Muito açúcar, hiperactividade, défice de atenção. Depois, é só alimentar a indústria farmacêutica, do mesmo modo que alimentamos a indústria alimentar dos processados. Espirais tóxicas. Um abraço.
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