Em entrevista ao DN a propósito
da divulgação dos rankings escolares David Justino, presidente do Conselho Nacional
de Educação, volta a afirmar “o benefício de uma retenção não compensa os danos
pessoais e sociais que provoca. Há alunos que não aprendem ou não querem
aprender, mas estes representam muito menos do que os quase 13% que todos os
anos são retidos e igual proporção dos que desistem através do abandono
precoce. O que é importante é contrariar essa cultura, proporcionando a todos
os alunos oportunidades de aprender mais ajustadas ao seu perfil.”
Considerando os discursos sobre
esta questão e as práticas desenvolvidas em muitas escolas parece-me sempre
oportuno insistir nesta ideia, chumbar, só por si e de forma geral, não melhora a qualidade do
trabalho dos alunos e dos professores.
Recordo um estudo recente da
Universidade Nova de Lisboa, "Será a Repetição de Ano Benéfica para os
Alunos?" concluiu que reprovar alunas do 4.º ano com mau desempenho escolar tem
um efeito positivo muito reduzido e, entre os rapazes, não traz qualquer
vantagem.
Estes resultados estão em linha com
também recente trabalho “Números, letras ou tubos de ensaio?” do CNE e da
Fundação Manuel Francisco dos Santos.
A questão da retenção escolar em
Portugal é objecto de muita discussão, diferenças de entendimentos e práticas e
de alguns equívocos.
Insisto sempre que a questão é
saber se os efeitos são positivos e não os critérios pelos quais se chumba um
aluno.
Relembro um Relatório
“Low-Performing Students - Why They FallBehind and How To Help Them Succeed”
divulgado pela OCDE no início deste ano se evidencia que o “chumbo”, a
retenção, é para os alunos portugueses o principal factor de risco para os
resultados na avaliação posterior, dito de outra maneira, os alunos chumbam …
mas não melhoram. O peso da retenção no nosso sistema escolar parece assentar
na errada convicção de que a repetição só por si conduz ao sucesso.
Confesso sempre alguma surpresa e
dificuldade em compreender quando ao discutir-se os efeitos pouco positivos da
retenção, cerca de 150 000 alunos por ano, algumas vozes, mesmo dentro do
universo da educação, clamam que se está a promover o "facilitismo" ou
a defender que "então passam sem saber". A leitura das caixas de
comentários da imprensa online a notícias sobre esta matéria é elucidativa e
merecia ser analisada.
Como me parece evidente não é
dada disto. Como exemplo, a Noruega tem uma taxa de retenção próxima do 0% e
não consta que os alunos noruegueses passem sem saber, são, aliás, dos alunos
com melhores resultados nos estudos comparativos internacionais.
Insisto. A questão é saber se o
chumbo transforma o insucesso em sucesso. Não transforma, repetir só por
repetir não produz sucesso, aliás gera mais insucesso conforme os estudos
mostram.
Assim sendo, o que deve ser
discutido e objecto de políticas adequadas será que tipo de apoios, que medidas
e recursos devem estar disponíveis para alunos, professores e famílias desde o
início da percepção de dificuldades com o objectivo de evitar a última e
genericamente ineficaz medida do chumbo. É necessário diversificar percursos de
formação com diferentes cargas académicas e finalizando sempre com formação
profissional. Importa ainda que as políticas educativas sejam promotoras de
condições de sucesso para alunos e professores.
O número de alunos por turma em algumas
escolas e agrupamentos, um modelo curricular extenso e prescritivo, uma cultura
de competição e centrada quase que exclusivamente em resultados, os cortes no
número de docentes que poderiam desenvolver dispositivos de apoio, são apenas
alguns exemplos do que pode não se favorável à promoção de qualidade e sucesso.
Como é evidente este tipo de
discurso não tem rigorosamente a ver com "facilitismo" e, muito
menos, com melhoria "administrativa" das estatísticas da educação,
uma tentação a que nem sempre se resiste.
Assim sendo, o essencial é
promover e tornar acessíveis a alunos, professores e famílias apoios e recursos
adequados e competentes de forma a evitar a última e genericamente ineficaz
medida do chumbo. É fundamental não esquecer que o insucesso continua a atingir
fundamentalmente os alunos oriundos de famílias com pior condição económica e
social pelo que inibe o objectivo da mobilidade social, replicando o velho
"tal pai, tal filho".
É necessário também diversificar
percursos de formação com diferentes cargas académicas e finalizando sempre com
formação profissional mas não em idades precoces criando percursos
irreversíveis de "segunda" para os "sem jeito para a
escola" e "preguiçosos".
A qualidade promove-se, é certo e
deve sublinhar-se, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens, sim,
naturalmente, mas também com a avaliação do trabalho dos professores, com a
definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio
a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas
educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos
adequados e reais de autonomia, organização e funcionamento das escolas, com a
definição de objectivos de curto e médio prazo, etc.
É o que acontece, genericamente,
nos países com mais baixas taxas de retenção escolar.
É o que não tem acontecido em
Portugal.
Ponto.
"Insisto. A questão é saber se o chumbo transforma o insucesso em sucesso. Não transforma, repetir só por repetir não produz sucesso, aliás gera mais insucesso conforme os estudos mostram."
ResponderEliminarDepende das situações:
a)O que, como EE, eu tive de fazer para que o meu mais novo chumbasse no 10º ano de C e Tecnologias! Queriam que transitasse com 7 a matemática e média geral de 10 ou 11, já não me lembro. Arranjei 1 estratégia e o rapaz reprovou. No ano seguinte, mudou de escola, de amigos e passou de 7 a matemática para 15. É que da janela da sala, de umas das escolas da "linha" via-se o mar e o rapaz ....perdia-se e passava facilmente para a twilight zone ou para Plutão, que naquela altura ainda pertencia ao sistema solar.
b) Por outro lado, talvez na maioria dos casos, é verdade que "repetir só por repetir não produz sucesso". Depende do aluno e da sua circunstância e das condições dadas pelas escolas e professores.
A afirmação não assenta em situações individuais, eu próprio chumbei e acabei por fazer toda a formação esolar incluindo superior, mas em dados globais que mostram claramente que o "chumbo" não produz sucesso.
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