AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

domingo, 6 de novembro de 2016

DUAS FAMÍLIAS

No DN tropecei com uma peça sobre a reconstrução bem-sucedida de famílias após situações de divórcio. Referiam-se situações em que adultos e crianças encontraram forma de viverem situações de bem-estar depois de quebrar relações anteriores.
Seria esta a situação desejável em caso de separação. No entanto, sabemos que nem sempre assim é e muitos processos são verdadeiras fontes de sofrimento para adultos e crianças.
Defendo sempre que é preferível uma boa separação a uma má família. Muitos casais, com o alibi da protecção dos filhos mascaram uma relação que já não existe mas que se sentem incapazes de dar fim. Vivem, por assim dizer, "casados por fora e descasados por dentro", o que não passa, evidentemente, despercebido aos filhos.
Por outro lado, tem vindo também a verificar-se crescentemente situações de casais que, apesar de separados, continuam a coabitar o mesmo espaço ou que nem sequer assumem a separação, que poderá implicar, quando existem filhos, algumas ansiedades e inquietações nos pais sobre a forma de lidar com um contexto em que aparentemente existe uma família, quando na verdade já são duas com uma ou mais crianças entre elas.
A verdade é que as crianças e adolescentes também percebem, sentem, muito bem quando as coisas se alteram, quando os pais apenas “estão casados por fora”.
Como disse e o trabalho do DN mostra, em boa parte das situações as coisas correm bem mas a convivência de um grupo de pessoas que não se separa e já não é uma família pode conter alguns riscos de insegurança e instabilidade para os mais novos tal como mal-estar nos adultos por mais fingimento que se possam mobilizar.
Neste contexto, importa estar atento e a experiência diz-me serem frequentes as situações de separação em que os adultos sentem insegurança e ansiedade e até exprimem a necessidade de ajuda. Acresce que as questões à família às novas famílias são ainda objecto de discursos muito contaminados pelos sistemas de valores éticos, morais, religiosos e culturais.
O volume de opiniões sobre estas situações é extenso, oscilando entre considerações de natureza moral e/ou ética e um entendimento científico sobre a forma como as famílias e sobretudo as crianças e jovens lidam ou devem lidar com as circunstâncias. Por mim, creio “apenas” que o(s) ambiente(s) familiar(es) deve ser suficientemente saudável para que a criança se organize também saudavelmente e faça o seu caminho sem uma excessiva preocupação geradora de ansiedade e insegurança em todos os envolvidos, miúdos e graúdos.
Há que estar atento e perceber os sinais que as crianças mostram e, na verdade, com alguma frequência, os pais estão tão centrados no seu próprio processo que podem negligenciar não intencionalmente a atenção aos miúdos e à forma como estes vivem a situação. Pode ser necessário alguma forma de apoio externo mas sempre encarado de uma forma que se deseja serena e não culpabilizante.
Para ilustrar este universo um desenho, que creio já aqui ter deixado, de uma criança a quem foi solicitado na escola que desenhasse a sua família e cito uma outra criança que se dizia muito contente por ter duas férias, uma com cada família.   

       
Acho muito interessante que as suas duas famílias têm um solzinho que as aquece e aconchega. As crianças são muito capazes de lidar bem com duas famílias.

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