Em estudo realizado por Caldas de
Almeida, presidente do Lisbon Institute of Global Mental Health, a apresentar
no Fórum Gulbenkian de Saúde Mental, com o tema “Crises Socioeconómicas e Saúde
Mental: da Investigação à Acção”, comprova-se a relação entre a situação de
crise económica e de dificuldades das famílias com a saúde mental.
Em 2008, a prevalência de doenças
mentais na população portuguesa era de 19,8%, em 2015 subiu para 31,2%.
Segundo o autor, “Confirma-se
que, de facto, os determinantes económicos e financeiros têm uma influência
muito grande na saúde mental das pessoas”.
Os dados, na linha de outros
estudos, mostram também que no mesmo período subiu significativamente o consumo
de psicofármacos, designadamente, de antidepressivos e ansiolíticos. O estudo
mostra ainda que uma percentagem muito significativa dos inquiridos teve dificuldade
em assumir os custos dos cuidados de saúde. Apenas 40% teve acesso aos cuidados
de saúde adequados.
Os indicadores não surpreendem. Estudos
divulgados em 2016 realizados pela Universidade Coimbra dos quais releva um
aumento da procura das consultas de psiquiatria e o aumento de alguns quadros
de problemas, designadamente, a referência à intenção de cometer suicídio,
entre outros aspectos. Os estudos estabelecem também alguma associação entre
este aumento e a degradação das condições de vida das famílias pois foram os
grupos sociais mais atingidos os que justamente mais procuraram apoio.
Nada de surpreendente, é
reconhecida alta prevalência de problemas de saúde mental e ainda mais evidente
o fortíssimo consumo de psicofármacos por parte dos portugueses.
Recordo que o Relatório Portugal
– Saúde Mental em Números 2014, na linha dos dados dos últimos anos, evidenciava
o peso fortíssimo que as patologias no âmbito da saúde mental têm no âmbito da
designada carga global de doença.
Estima-se que as perturbações do
foro psiquiátrico afectem mais de um quinto dos portugueses, 22.9%, umas das
taxas mais altas da Europa. O Relatório sublinha a inexistência de respostas
ajustadas, equipas comunitárias de saúde mental por exemplo, o que potencia o
recurso aos fármacos mesmo em situações não recomendáveis clinicamente. Este
recurso excessivo à medicação torna-nos num dos maiores consumidores de
psicofármacos com custo económicos brutais.
A propósito recordo que de acordo
com o relatório "Portugal Saúde Mental em Números 2013", só 16,2% das
pessoas com perturbações mentais ligeiras e 33,8% das que sofrem de
perturbações moderadas recebem tratamento em Portugal.
São também referidas no Relatório
de 2014 as dificuldades de resposta em saúde mental para crianças e
adolescentes levando, por exemplo, a que em muitas situações os internamentos
neste grupo etário ocorram em serviços vocacionados para adultos algo que,
evidentemente, não deveria acontecer.
Num cenário de retracção dos
investimentos nas políticas de saúde que tantas vezes referi no Atenta
Inquietude, a experiência tem mostrado que a doença mental é, nas mais das vezes,
um parente pobre no universo das políticas de saúde.
Quando a pobreza das pessoas
aumenta e a pobreza dos meios e recursos também aumenta, o quadro é ainda mais
grave.
Acrescento que, actualmente, somos o país da Europa com maior incidência de doenças mentais! Estima-se que ainda neste século, será a depressão a doença número 1 causadora de incapacidade.
ResponderEliminar( Apesar de jovem, também faço birra com o novo acordo ortográfico)
Gostei da mensagem.
Aqui fica o meu espaço : http://apsiquiatriadaines.blogspot.pt/
E, como escrevi, a saúde mental é um parente pobre das políticas de saúde
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