AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

A HISTÓRIA DO ZÉ MAU

Na manhã de hoje o diálogo foi vivo sobre os comportamentos dos mais novos, da indisciplina como se chama. Os futuros professores e educadores estavam verdadeiramente interessados na conversa.
A conversa ainda presente e um tempo de espera maior do que desejava aqui no aeroporto fez-me recordar uma notícia que me deram há dias sobre um amigo de lá para trás no tempo, o Zé Mau.
O Zé Mau foi meu companheiro de escola na primária, sou do tempo da primária, antes de inventarem o 1º ciclo. O Zé Mau embora fosse da nossa idade parecia ter uns anos a mais, era mais alto e um bocado para o “cheio”. O Zé Mau não tinha assim muito jeito para a escola, a professora estava sempre a dizer-lho. Mas o Zé Mau tinha jeito para a luta, qualquer coisa que o incomodasse mais seriamente o Zé Mau espigava e, sem grande dificuldade, ia para a "porrada".
Passava o tempo na rua. Claro que alguns de nós tínhamos medo do Zé Mau, outros tínhamos inveja e até gostávamos do Zé Mau, isto era antes de inventarem o bullying. O pessoal, como eu, que andava mais na rua, gostava de sentir o Zé Mau por perto, sobretudo, quando íamos jogar à bola umas ruas mais para baixo com os putos dessa zona. A coisa raramente acabava de forma pacífica e era então que o Zé Mau dava um jeitão.
Logo a seguir à primária o Zé Mau já não nos acompanhou, ficou chumbado, antes de inventarem a retenção. Andou mais dois ou três anos na escola e para ele chegou, antes de inventarem o “dropout”.
De vez em quando, raramente, cruzava-me com ele, o que já não acontecia faz um tempo longo. Entre uma “imperial” e as memórias, sabia da sua vida de biscates e encrencas.
Há dias, um companheiro desses tempos, mandou-me uma mensagem, “Sabes que morreu o Zé Mau? Estava preso e suicidou-se”.
Ele era assim, o Zé Mau, não era tipo para estar preso, nunca se deixou agarrar.
Ainda bem que já não vou jogar à bola com os putos das ruas de baixo, o Zé Mau não vai estar para nos defender.

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