Recebi a mensagem transcrita em
baixo que com a devida autorização divulgo. Trata-se de mais uma história da
inclusão e aborda algo na agenda, os manuais escolares. Parece-me bem elucidativa
das dificuldades de alunos, famílias e professores, em cumprir um direito
básico, o direito à educação em condições de equidade por parte de todos os
alunos, incluindo evidentemente, os alunos com necessidades educativas especiais.
É também claro que existe uma
outra agenda de interesses que dificulta ainda mais o cumprimento desse
direito.
“Sou pai do …, um jovem com paralisia cerebral, com 14 anos, com grande
dificuldade motora, a frequentar o currículo comum no ensino básico,
beneficiando de algumas medidas do Decreto-Lei n.º3/2008 - apoio pedagógico
personalizado, adequações curriculares em algumas disciplinas (EV, ET, EM e
EF), adequações no processo de avaliação e tecnologias de apoio.
Ao longo do seu percurso escolar, o grande auxilio de aprendizagem do …
foi o Computador, algo que minimiza bastante a minha preocupação na recuperação
do ... uma vez que o presente e o futuro está virado para a informatização.
Como o … não consegue escrever com lápis/esferográfica e tem muita
dificuldade no manuseamento de livros, quando o … iniciou o primeiro ano do
ensino básico, fiz questão de lhe disponibilizar um portátil e logo surgiu um
grande problema - não lhe era fornecido qualquer manual em formato digital para
ele poder trabalhar. Então a solução que arranjei, foi eu digitar as folhas do
manual, transferir a imagem para o word e colocar caixas de texto nas respostas
para o …, na aula, poder responder e fazer as ditas fichas à semelhança dos
restantes colegas de turma (para perceber melhor envio uns exemplos em anexo).
Neste momento, o meu filho já frequenta o 6º ano e o problema
mantém-se, ou seja, não existem manuais digitais apropriados para crianças com
as suas necessidades educativas trabalharem no computador, e dando-lhes a
possibilidade de realizarem as mesmas tarefas que são propostas pelos
professores aos colegas de turma.
Durante o quarto ano do ensino básico e agora no segundo ciclo, tive a
felicidade de o meu filho estar a ser acompanhado por excelentes profissionais
que se esforçam diariamente para que o meu filho tenha todos os recursos
disponíveis.
No final do ano lectivo anterior, a …, professora e directora de turma
do meu filho, efectuou o pedido ao ministério da educação de manuais em formato
digital. Efectivamente, chegaram os tais manuais, mas infelizmente estão muito
aquém das necessidades destas crianças; são simples manuais na versão PDF e
muitos destes vêm protegidos.
A directora de turma já enviou, neste ano letivo, uma mensagem à DGE a
expor as dificuldades que estão a ser sentidas com os recursos disponibilizados,
e a resposta foi que "os manuais são cedidos pelas próprias editoras
escolares em suporte CD ou no caso do Grupo Porto Editora através de links de
acesso à plataforma Escola Virtual". Informou ainda a DGE que, a este
propósito, contactou o Grupo Porto Editora, solicitando a disponibilização de
manuais escolares em formato digital sem estarem encriptados e que a resposta
foi que atualmente só tinham esta forma de cederem os manuais escolares por
questões que se prendem com "a necessidade de protegerem conteúdos, que
são também propriedade dos respetivos autores e com os quais têm compromissos
assumidos em termos da sua disponibilização"; que a plataforma Escola
Virtual permite a anotação dos conteúdos (notas do estilo "post-it" e
que estão a trabalhar esta situação para incluírem a mesma numa futura versão.
Iniciei esta luta com as Editoras há seis anos e, confesso que a certa
altura desisti (1.º ciclo, uma professora e poucas áreas disciplinares). Agora
que ele está no 2.º ciclo, o número de disciplinas aumentou significativamente
e, saber que a utilização de recursos digitais poder ser um facilitador dos
processos de ensino e aprendizagem do meu filho e saber que ainda faltam sete
anos até que ele termine o ensino secundário, obrigam-me a continuar a
lutar.
A minha grande revolta e grande questão é: Como é que nos dias de hoje
não existem manuais escolares digitais, em formato livro, onde se possa
escrever de uma forma natural, sublinhar o que o professor achar mais
importante na sua aula, etc. etc.?
(…) Tenho tido grandes batalhas neste assunto, todas elas sem sucesso,
e estou a ficar sem recursos para solucionar este grande problema que advém dos
interesses das editoras/autores.”
Alguém pode ajudar?
Infelizmente, a descrita relatada no texto acima coincide com a realidade. A questão dos manuais escolares digitais "flexíveis", que permitam o seu uso normal com recurso a meios informáticos, não tem merecido a atenção nem a salvaguarda devidas por parte do Ministério da Educação. No contexto atual, tudo depende da boa vontade (?!) das editoras.
ResponderEliminarPois é João Adelino, ficar dependente da "generosidade" das editoras não é boa política.
ResponderEliminarConfesso que não estava consciente deste problema... Relatos como este são muito importantes para que conheçamos dificuldades que nos passam despercebidas e, enquanto cidadãos, pressionemos o MEC, a assembleia da república, quem deve zelar para que a igualdade de direitos e de oportunidades seja uma realidade a cumprir este seu papel. E se os professores portugueses estiverem mais sensibilizados para questões como esta quando forem escolher os manuais, aposto que a "generosidade" das editoras também será maior...
ResponderEliminarComo docente de Educação Especial conheço e convivo diariamente com situações semelhantes.
ResponderEliminarAs editoras são irredutíveis e a pressão exercida sobre elas (quer pelos Pais/Encarregados de Educação, quer pelas Escolas/Professores ou até mesmo pelo Ministério da Educação)é mínima ou até quase inexistente.
Seria importante, à semelhança de outras manifestações públicas, que outros pais em situação igual se unissem em defesa dos direitos dos seus filhos contra a hegemonia das editoras.
Sem dúvida
ResponderEliminarComo utilizador das versões digitais dos manuais, confesso que não entendo em que medida o que as editoras disponibilizam estará aquém das necessidades manifestadas. Os meus filhos usam as versões digitais dos manuais da Porto Editora, quer no site da Escola Virtual, quer na app que têm instalada no tablet e, em qualquer das vias, podem sublinhar, ampliar, anotar, etc.
ResponderEliminarNão sei se estarei a dizer algo profundamente errado, e peço desculpa se porventura for esse o caso, mas o que o senhor em questão necessitará de arranjar para o seu filho é um equipamento que permita escrever com "naturalidade" e precisão, um tablet Windows com caneta, como o Microsoft Surface (refiro este porque é o que já experimentei, mas sei que existem outros). Este tipo de equipamentos são mais caros do que os portáteis comuns mas permitem escrever como no papel, o Windows 10 tem ferramentas próprias que ajudam bastante e julgo que poderão ser uma solução para uma parte substancial dos problemas mencionados.
Agradeço o seu comentário/ajuda, Jorge Bastos Lemos. Continuo com dúvidas relativas aos custos da escolaridade obrigatória, GRATUITA e universal e ao nível de literacia informática/digital dos pais. Como terá visto por outros comentários, incluindo de profissionais, os problemas nesta área são diversos.
ResponderEliminarOlá Sr.Jorge Bastos Lemos, sou informático e pai do referido menino, para lhe explicar toda a dificuldade na utilização dos manuais iria ter de me alongar muito, penso que o seu comentário tem como base a utilização dos tais manuais digitais apenas como auxilio ao estudo o que não é o caso em questão, uma vez que em muitos casos nem iguais aos manuais originais são. O meu filho, como deve ter lido no texto não consegue manusear uma caneta para escrever e tem grande dificuldade para virar a página de um livro, utiliza apenas a mão esquerda para escrever no computador e manobrar o rato, neste momento já utiliza um portátil híbrido, com touch, com opção tablet e com o Windows 10 na sala de aula, a grande dificuldade consiste na escrita das respostas nos ditos manuais, enquanto um livro normal tem uma linha ou duas por baixo da pergunta para se escrever a resposta normalmente, tem colunas para fazer correspondência, tem tabelas para serem completadas, etc... Nos manuais digitais por exemplo, para responder tem que se colocar uma caixa de texto por baixo da pergunta, isto quando o manual ou PDF o permite e na maioria das vezes a dita caixa tapa a pergunta seguinte, não se consegue ligar colunas, etc... até me poderia dizer para dar uma resposta faça assim, para ligar uma coluna faça assado, mas penso que não será esse um futuro justo. A minha luta é que como um aluno dito normal pega na caneta e escreve no livro todos os meninos como o meu filho peguem no teclado e escrevam em qualquer livro digital. De qualquer modo obrigado pelo seu interesse.
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