AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 27 de setembro de 2016

DOS CONCURSOS DE PROFESSORES

O Arlindo Ferreira e o Alexandre Henriques, dos blogues Blog DeAr Lindo e ComRegras, em mais um serviço público de educação realizaram um inquérito a que responderam 5135 professores sobre aspectos ligados aos concursos cujos resultados foram hoje divulgados.
Os que acompanham este espaço e me conhecem sabem que não sou professor do ensino básico ou secundário e provavelmente saberão que tenho uma trajectória de 40 anos, profissional e académica, no universo da educação. Outros ficarão a saber.
Para alguns estarei inibido de opinar sobre os professores e o seu trabalho, é com muita frequência que oiço, leio, que o “não estar no terreno”, “não ter as mãos na massa”, ou outra qualquer variante constitui um rótulo que retira qualquer autoridade para opinar.
No entanto, tenho para mim que “estar no terreno” não confere a exclusividade da opinião e, só por si, também não é sinónimo de sabedoria definitiva e inquestionável. No mesmo sentido, a experiência, só por si, não é sinónimo de competência, em todas as profissões existe gente nova muito competente e gente “velha” menos competente.
Nesta perspectiva e porque tantas vezes tenho escrito que alguns dos problemas dos professores são também problemas nossos e porque a idade nos dá algum atrevimento, deixo duas notas breves sobre os resultados do inquérito hoje conhecidos.
Uma primeira nota remete para o facto cerca de 95% dos docentes que responderam ao inquérito defendem que os concursos devem ser nacionais, com critérios e gestão da responsabilidade do ME.
É um resultado que me parece curioso. Desculpar-me-ão mas creio que tal como ME desde há décadas os professores não confiam nas escolas. Provavelmente por situações que todos conhecemos, sim, eu também conheço, ultrapassagens incompreensíveis, enviesamento de critérios, favorecimento, etc., etc. em recrutamento sediados na escola minaram definitivamente a confiança da maioria dos professores nas direcções escolares.
Percebe-se mas é um mau sintoma. Este entendimento não colide com ideia de que a nível nacional se torna mais “simples” estabelecer critérios e ordenar listas. Fica-me uma questão, será o recrutamento de docentes uma linha vermelha da autonomia das escola?
A segunda nota remete para o facto de que 78.9% dos docentes do quadro e 68.2% dos professores contratados entendem que a “avaliação de desempenho não deve influenciar o a graduação profissional".
Este resultado, que em termos abstractos surpreende, talvez seja explica, mais uma vez, pela desconfiança que os dispositivos de avaliação levantam desde há muito no nosso sistema educativo. A avaliação de desempenho é em qualquer profissão uma ferramenta importante de regulação e promoção da qualidade e, acrescento, de defesas dos próprios profissionais e da sua identidade e profissão.
É verdade que nesta matéria a confusão e a incompetência tem sido mais que muita, quem não se lembra do inenarrável modelo chileno de Maria de Lourdes Rodrigues e das múltiplas histórias que circulam sobre a burocracia e competência e das práticas dos avaliadores.
No entanto, não me parece impossível que se construa de forma participada e competente um modelo de avaliação de desempenho, que, obviamente, deveria integrar critérios de concursos.
Um renovado pedido de desculpas pelas opiniões produzidas por quem não está “no terreno”, “na sala de aula” mas que não se demite de pensar, certamente mal, sobre o seu universo profissional e a sua paixão, a educação.

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