AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

terça-feira, 12 de julho de 2016

OS EXAMES DO 9º ANO

Conhecidos os resultados dos exames do 9º ano temos que a média de Matemática continuou a descer atingindo o segundo pior resultado dos 12 anos em que se realizam, 47%. Em Português também se verificou uma descida muito ligeira face ao ano anterior mas a média foi positiva, 57%. Não vou estabelecer a tentadora relação de causa efeito entre os resultados e as políticas educativas mas estas têm, naturalmente, de ser equacionadas.
Recordo que os exames não foram considerados particularmente difíceis sendo, também por isso, preocupantes estes resultados.
Em primeiro lugar pelo seu próprio valor e em segundo lugar pelo impacto que este baixo nível de conhecimentos em áreas como Matemática Português poder ter no trajecto escolar dos alunos induzindo percursos que tenderão ao insucesso ou abandono.
Mais uma vez, creio que é de insistir na ideia de que a qualidade em educação promove-se, sem dúvida, com a avaliação rigorosa e regular das aprendizagens. No entanto e mais do que com os exames, promove-se com a definição de currículos adequados, com a estruturação de dispositivos de apoio precoce, oportuno e competente a alunos e professores eficazes e suficientes, com a definição de políticas educativas que sustentem um quadro normativo simples e coerente e modelos adequados de organização e funcionamento das escolas, com o reforço real da sua autonomia, com a definição de objectivos de curto e médio prazo, com dispositivos de regulação, etc. É o que acontece, genericamente, nos países com mais baixas taxas de retenção.
Num país em que o nível de escolaridade dos pais é uma variável fortemente associada ao rendimento escolar dos filhos e em existem muitas famílias com crianças em risco de pobreza ou em pobreza e sabendo-se que a privação é, evidentemente, um factor também fortemente associado ao rendimento escolar, exigem-se políticas sociais e apoios às famílias, não estou a falar de dinheiro exclusivamente, que contribuam para que não tenhamos este nível de resultados como algo de estrutural e inultrapassável.
Somos capazes de fazer melhor. Temos de fazer melhor.

3 comentários:

  1. Infelizmente, há variáveis que interferem substancialmente neste processo: a qualidade da prova (a adequação dos textos/das perguntas, por exemplo), a definição dos critérios específicos de classificação e as orientações dadas aos classificadores ao longo do tempo para a classificação.
    Estas variáveis - e não propriamente a qualidade ou preparação dos alunos - determinaram, com toda a certeza, os resultados deste ano, pelo menos na prova de Português.
    Foi tudo pior este ano. A pequena diferença de média que se registou em Português até surpreendeu pela positiva vários colegas com quem fui conversando. Esperávamos uma descida mais acentuada.
    (lecionei a disciplina ao mesmo número de turmas de 9º Ano e classifiquei provas nos dois últimos anos letivos).

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  2. Prezada Ana e prezado José,
    Quando deixaremos de confundir avaliação com classificação? Quando começaremos a desenvolver uma efetiva avaliação formativa, contínua, sistemática, alinhada com a aprendizagem? Quando compreenderemos o significado da palavra aprendizagem? Quando perceberemos a inutilidade dos exames?
    Há mais de quarenta anos, venho dizendo que não é a preocupação com o termómetro que fará baixar a temperatura... Acresce que instrumentos de avaliação como a prova, o teste, são falíveis e quase nada avaliam. Precariamente, esses instrumentos apenas nos avisam de que nem sequer as aprendizagens cognnitivas elementares estão a ser concretizadas, que o modo de trabalho pedagógico adotado pelos professores e escolas não serve.
    Se o modelo de escola vigente nega o direito à educação consagrado na Constituição, as escolas poderão insistir na prática desse modelo? Se, do modo como os professores trabalham, não logram ensinar todos, condenando à ignorância significativa parcela dos alunos, os professores terão direito de continuar a trabalhar desse modo?
    Quando assumiremos o compromisso ético essencial de deixar de mitigar um obsoleto e fóssil modelo educacional, para passar a agir no quadro de novas construções sociais de aprendizagem?
    Recebei o meu fraterno abraço!
    José

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  3. Olá Zé Pacheco, como tantas vezes digo, "não é por medir muitas vezes a febre que a febre baixa". Os exames só por existirem não produzem qualidade, seja lá isso o que for. Tal como o chumbo não produz sucesso, como dizes, medir não é avaliar. No entanto, vivemos tempos de medida, de tudo ... mesmo do que não se pode medir, Um abraço deste lado do mar.

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