AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

sábado, 2 de julho de 2016

A AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR

Está hoje a decorrer um evento de apresentação das Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar. Não sendo um especialista considero que se trata de um documento sólido e útil como contributo para repensar o caminho que tem vindo a ser percorrido no universo da educação.
Como não podia deixar de ser, do meu ponto de vista evidentemente, em matéria de avaliação é definido com clareza que a avaliação em educação pré-escolar não se destina a “medir” ou a “classificar” mas a “regular” os processos educativos e o trabalho de crianças e educadores.
A este propósito, recordo que há cerca de um ano e face a alguns relatos e conhecimento de situações pedi que fizessem chegar ao Atenta Inquietude alguma informação sobre o que estava a acontecer em matéria de avaliação em educação pré-escolar, designadamente a existência de orientações/exigências em alguns agrupamentos, por parte das direcções ou da tutela, para que as avaliações às crianças fossem objecto de quantificação ou que dados de avaliações qualitativas fossem transformados em dados quantitativos.
Recupero alguns dos testemunhos.
"sim, confirmo. com check list de metas e sub metas para todas as áreas e conteúdo e para as 3 idades. alguns casos com menções qualitativas, outros casos com um tipo de código quantitativo que permite, depois, a sua análise estatística e apresentação de resultados iguais aos outros níveis de ensino."
"também confirmo... com percentagens e tudo."
"De facto, a diversidade de "modelos" de avaliação na Educação Pre-Escolar, decorrente quer das incoerentes e inconcebíveis "orientações" legais, mas também das diversas interpretações que muitos agrupamentos fazem dessas mesmas "orientações" têm provocado um sem fim de "anormalidades" que vão desde as "quantificações" de resultados à existência de grelhas de avaliação e "fichas de observação" que, em alguns casos chegam a ter 150 "critérios avaliáveis"."
"Confirmo. E o meu horário já está dividido por horas (p.e segunda das 9:00 às 9:30 matemática e assim sucessivamente para todos os domínios) e com coadjuvações. As metas foram divididas pelos 3,4 e 5 anos."
"Confirma-se. E passa por todos os setores: público, privado e IPSS
"Com horários dividido por horas (p.e segunda das 9:00 às 9:30 matemática e assim sucessivamente para todos os domínios) e com coadjuvações."
"no meu Agrupamento insistiu-se na ideia peregrina de "aproximar" os "sistemas de avaliação" do pré e do 1o. Ciclo, através de "instrumentos" semelhantes."
Também recebi alguns relatos de boas práticas mas fiquei perplexo e deveras preocupado com a educação pré-escolar a ser também atormentada com a febre da medida.
É um lugar-comum afirmar que a realidade supera a ficção mas fiquei perplexo.
A febre da medida está a chegar à educação pré-escolar de uma forma preocupante e era coerente com a examocracia instalada.
Como é claro para toda gente no mundo da educação, a avaliação e a medida em contextos de aprendizagem são ferramentas fundamentais como reguladores da qualidade dos processos educativos.
Como também é claro que as crianças são diferentes, os contextos educativos e institucionais são diferentes como instituições educativas, educadores e professores devem ter autonomia que lhes permitam responder e acomodar as diferenças referidas relativas a alunos, instituições e contextos.
Acresce que os diferentes patamares do sistema educativo têm particularidades que devem ser acauteladas. Neste sentido, a educação pré-escolar tem uma função e um conjunto de objectivos que sustentam a desadequação de definir a medida e a classificação como reguladores da qualidade do trabalho de adultos e crianças.
Andam bem as Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar em promover com clareza dispositivos de avaliação não centrados na medida e na classificação mas na regulação dos processos e no desenvolvimento educativo das crianças.

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