AS MINHAS CONVERSAS POR AÍ

quinta-feira, 14 de abril de 2016

GENTLE POLICY. Preferíamos que se realizassem mas façam como acharem por bem

Como o povo diz, o que nasce torto tarde ou nunca se endireita. É o caso da narrativa recente sobre os exames e as provas de aferição.
Os que acompanham este espaço e o que penso sobre a educação sabem que entendo como indispensável a avaliação externa como também sabem que não me parece que essa a avaliação externa deva ser realizada através de exames, sobretudo no 1º ciclo.
Apesar deste entendimento recordarão que discordei da oportunidade e conteúdo da decisão de acabar com os exames finais do 1ºe 2º ciclos e a introdução das provas de aferição em anos intermédios2º, 5º e 8 anos. Não cumprem o que se espera de uma prova de “aferição”, são mais uma prova externa de diagnóstico a meio de um trajecto de ciclo o que, evidentemente, não é uma aferição.
Recordarão ainda que manifestei várias vezes a estranheza pela ausência do calendário de avaliação quando estamos a terminar o segundo período.
Depois, ao parece em entendimento como o Presidente da República, definiu que as provas de aferição não serão obrigatórias para este ano sendo as escolas a decidir se as realizam ou não.
O ME estabeleceu ainda que, se assim o entenderem, as escolas também podem realizar os exames finais de 4ºe 6º ano que foram abolidos. Como disse na altura esta deriva não serve o interesse da qualidade e serenidade do trabalho de alunos e professores.
A devolução às escolas da decisão de realizarem ou não as provas de aferição este ano bem como os finados exames do 4º e 6º causa perplexidade.
Os finados exames são “bons” ou não? A decisão de os abolir foi justificada (com algumas razões que me merecem concordância) pela sua “dispensabilidade”, para ser simpático. No entanto se as escolas quiserem podem realizá-los. Como?! Então passam a uma boa ferramenta educativa?!
Atribuir às escolas a decisão relativa às provas que realizam em nome da autonomia é algo patético e um fingimento de autonomia na medida em que se estabelece que a regra é transitória. Para o ano tudo é obrigatório (já haverá tempo para preparar) e … acaba-se a autonomia.
Dá para entender?
Não, não poderia ter acontecido assim.
Para finalizar, num exemplo muito interessante de “gentle policy”, a Secretária de Estado Adjunta e da Educação, Alexandra Leitão, hoje no Parlamento afirmou que “O Ministério da Educação tem uma preferência para que estas se realizem, mas entende que, por razões ponderosas, as escolas possam não o fazer”.
Repito, este processo não podia ter sido assim.

2 comentários:

  1. Até costumo gostar dos seus textos, mas hoje não podia discordar mais. Estive a seguir o debate no canal parlamento e a notícia do Público não é minimamente fiel. O que está a acontecer e todos estranham é haver um ministério que ouve os professores. Aliás, pena é que a comunicação que o secretário de Estado fez ontem em Coimbra aos diretores não seja pública ou que não haja registo dela.
    Há um olhar novo sobre a escola, esclarecido e que não se compagina com a gritaria que o Público gosta de empolar.

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  2. Olá Madalena, obrigado pelo comentário. Na verdade, escrevi a propósito do que li pois não ouvi. No entanto, dado que tem acompanhado o que escrevo sabe que tenho uma opinião favorável às alterações introduzidas. Discordo dos timings, das provas aferidas a meio do ciclo, (como disse e creio que concordará, aferir resultados é no fim de período de aprendizagem e não no meio, isso é o papel da avaliação mais diagnóstica ou formativa). Também acho muito discutível dizer que as escolas realizam este ano as provas se entenderem por bem em nome da sua autonomia e para o ano tudo passa a obrigatório. É estranho, pois se se entende que as escolas devem ter autonomia este ano porque não mantê-la? Não me parece que faça sentido.
    Quanto à necessidade de ouvir os professores não posso estar mais de acordo, sobretudo depois da negrura de Maria de Lurdes Rodrigues e de Nuno Crato.

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