Parece estar em marcha o
movimento de “municipalização” da educação conforme constava do Programa do PS
e do Governo. Ao que afirmou o presidente Associação Nacional de Municípios
Portugueses (ANMP), Manuel Machado, as novas competências dos municípios na
área da educação deverão abranger toda a escolaridade obrigatória e "só
deverão entrar em funcionamento em 2018 e o financiamento deverá ser assegurado
pela criação de um fundo destinado globalmente à educação".
Como é reconhecido a
municipalização da educação é uma matéria controversa.
Recordo uma consulta promovida em
2015 pela Plataforma Sindical de Professores em que participaram cerca de 50
mil professores participaram na consulta sobre a "municipalização da
Educação", à volta de 43 mil manifestaram-se contra o processo.
A posição dos professores face ao
modelo que tem sido anunciado de “municipalização” que possibilitará que
serviços, actividades e/ou projectos, nomeadamente de administração escolar,
papelaria, refeitório, biblioteca, bem como serviços de apoio educativo,
incluindo psicologia ou desporto escolar, possam ser subcontratados a
operadores privados.
O Conselho de Escolas e as
associações de directores bem como os professores temem a diminuição da autonomia
das escolas apesar da retórica da tutela.
Seria desejável uma avaliação
séria e externa das experiências em desenvolvimento.
Por outro lado, insisto na
necessidade de se considerarem com atenção os resultados de experiências de
"municipalização" realizadas noutros países nos termos e cujos
resultados estão longe de ser convincentes. A Suécia, por exemplo, está
assistir-se justamente a um movimento de "recentralização"
considerando os resultados, maus, obtidos com a experiência de municipalização.
Por outro lado, o que se vai
passando no sistema educativo português no que respeita ao envolvimento das
autarquias nas escolas e agrupamentos, designadamente em matérias como as
direcções escolares, os Conselhos gerais ou a colocação de funcionários e
docentes (nas AECs, por exemplo) dá para ilustrar variadíssimos exemplos de
caciquismo, tentativas de controlo político, amiguismo face a interesses
locais, etc. O controlo das escolas é uma enorme tentação. Podemos ainda
recordar as práticas de muitas autarquias na contratação de pessoal,
valorizando as fidelidades ajustadas e a gestão dos interesses do poder.
Assim sendo, talvez seja mesmo
recomendável alguma prudência embora, confesse, não acredite pois não se trata
de imprudência, trata-se de uma visão, de uma agenda.
Ainda nesta matéria e dados os
recursos económicos que se anunciam através das verbas comunitárias para além
dos dinheiros públicos, parece clara a intenção política de aumentar o "outsourcing",
a intervenção de entidades e estruturas privadas que já existem nas escolas,
muitas vezes com resultados pouco positivos, caso de apoios educativos a alunos
com necessidades educativas especiais e do recurso a empresas de prestação de serviços,
(de novo o exemplo das AECs).
Está expressa nos Projectos de
contrato em funcionamento a intenção de contratar a privados a prestação destes
serviços nas escolas, incluindo no universo da inclusão, um modelo ineficaz
pois a intervenção de qualidade e adequada dos técnicos, designadamente de
educação ou psicólogos, depende, evidentemente, da sua pertença às equipas das
escolas e não é compatível com a prestação de serviços por técnicos de fora em
regime de "consulta".
Um modelo deste tipo, estruturas
e entidades privadas a intervir em escolas públicas, só é garantidamente bom
para as entidades a contratar, não, muito provavelmente, para alunos,
professores e escolas. Temo que “municipalização” possa ser um incremento e
apoio a um nicho de mercado.
Finalmente, uma referência ao
equívoco habitual entre autonomia das escolas e municipalização. De acordo com
o modelo em desenvolvimento, esperemos para ver mais claramente o que o ME
proporá, e conforme os directores têm referido recorrentemente a autonomia da
escola não sai reforçada, antes pelo contrário, passa para as autarquias por
delegação de competências do MEC. O imprescindível reforço da autonomia das
escolas e agrupamentos não depende da municipalização como muitas vezes se
pretende fazer crer.
Confundir autonomia das escolas
com municipalização é criar um equívoco perigoso e, frequentemente, não passa de
uma cortina de fumo para mascarar os caminhos dos negócios da educação.
Não tendo nenhuma posição em específico sobre a matéria da "municipalização", muito embora partilhando de quase todas as mesmas duvidas e preocupações, queria apenas ressaltar quanto aos lobbies e interesses de contratações de amigos, etc que isso já ocorre nas escolas/agrupamentos, portanto, no que concerne a isso apenas se alterariam interesses mas as práticas seriam (salvo excepções) as mesmas.
ResponderEliminarAliás uma das minhas obervações sobre o ensino é precisamente essa cultura organizacional de proteção que faz " esquecer" os verdadeiros objetivos da escola que deveriam ser o foco, isto é, ao invés de se programar cursos e projetos que promovam inclusão, interligando-se com o desenvolvimento local e a empregabilidade efetiva, procuram-se opções que mantenham lugares de professores e interesses... Entre muitas falhas esta é já uma delas e não será a municipalização a trazer como novidade, infelizmente!
Não tendo nenhuma posição em específico sobre a matéria da "municipalização", muito embora partilhando de quase todas as mesmas duvidas e preocupações, queria apenas ressaltar quanto aos lobbies e interesses de contratações de amigos, etc que isso já ocorre nas escolas/agrupamentos, portanto, no que concerne a isso apenas se alterariam interesses mas as práticas seriam (salvo excepções) as mesmas.
ResponderEliminarAliás uma das minhas obervações sobre o ensino é precisamente essa cultura organizacional de proteção que faz " esquecer" os verdadeiros objetivos da escola que deveriam ser o foco, isto é, ao invés de se programar cursos e projetos que promovam inclusão, interligando-se com o desenvolvimento local e a empregabilidade efetiva, procuram-se opções que mantenham lugares de professores e interesses... Entre muitas falhas esta é já uma delas e não será a municipalização a trazer como novidade, infelizmente!
Sem dúvida, como não podia deixar de ser, a escola é um palco claro da conflitualidade de interesses, que não sendo um problema à partida, é muitas vezes um problema ... à chegada, nos resultados
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